sábado, 21 de agosto de 2010

A impunidade é a mãe de todos os crimes


   As nossas cicatrizes têm o poder de nos recordar que o passado foi real, mas é difícil dizer se aprendemos a lição. Também é difícil dizer qual foi o erro que cometemos para sermos punidos, e sim, sempre culpamos os outros por nossas ações, algumas pensadas e outras simplesmente realizadas. Mas não é difícil dizer –para si mesmo- quando está errado.
   É pelo medo que nos consome que não conseguimos impor a nossa culpa, mas é pela impunidade que realizamos tudo o que nos arrependemos. A impunidade é a mãe de todos os crimes, quando sabemos que não seremos punidos, realizamos ações que temos a clareza que serão ruins.
   Quando atestamos a inocência, na maioria das vezes, é porque temos medo de ser punidos. Vemos a violência sendo praticada em todo o lugar e a razão para tudo isso nunca foi muito bem desenvolvida em uma tese. Então eu vou dizer: a violência é sempre praticada quando pensamos que tudo ficará no escuro, não temos medo de machucar o outro, pois o que ele pode fazer? Tudo o que é praticado aos olhos dos outros é apenas esquecido pelos espectadores, ninguém quer ser testemunha, correr riscos. É por isso que a violência cresce cada vez mais, ninguém tem mais a coragem de denunciar, e eu posso dizer que nem eu; quantas vezes fiquei com medo de acontecer alguma coisa comigo ou com a minha família. Prezamos o nosso bem estar -e em um ângulo isto está certo-, mas o bem estar do outro que está sendo violentado está reprimindo-se.
   Restam-se pegadas estranhas nas ruas, sapatos vazios e a sombra do medo, o grito que escoa pelos becos e fazem todos fecharem os seus olhos. Temos medo de dizer: isso não acontece só com o outro, você pode morrer! E não escondemos a palavra que tanto nos aterroriza: “morrer”. Os mais corajosos, que não tem medo da morte, quando se vêem face a face com ela, rendem-se.
   Não pensamos quantos sapatos vazios foram deixados pelas ruas da impunidade, quantas sombras ainda vagarão por este mundo cometendo atrocidades com almas inocentes, e outra culpadas. Não deveríamos desejar o mal a ninguém, não deveríamos sentir a vingança correndo pelos nossos pulsos, não deveríamos ter seguido o conselho da cobra para comer a fruta proibida.
   Nossos erros vêm de muito longe, e pensamos que eles não podem ser concertados, e estamos certos. As almas que foram tomadas não podem voltar aos seus corpos, as lágrimas derramadas pelas famílias não podem retroceder. Nós temos escolhas, e aqueles que acreditam no contrário estão escolhendo, possuímos a escolha de não escolher, a escolha de ignorar, a escolha de seguir em frente e a escolha de mudar. Enfim, depois de todas as ruas estarem limpas com a chuva que caiu, eu pergunto: qual é a sua escolha?
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Pauta para Palavras Mil, edição. Tema: imagem.
Pauta para OUAT, edição. Tema: frase em negrito.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Somos todos iguais, mas ainda não sabemos


   Eu observo as pessoas, seus pensamentos embaralhados e as suas visões sobre o mundo. Pessoas alegres, outras apressadas, algumas apaixonadas, mas as que realmente me intrigam são as silenciosas. Os pensamentos que se pode ter no silêncio são exóticos, e muitas vezes simpáticos para quem os pensa. Diante de todo o silêncio, pergunto-me se ainda posso observar as pessoas e escrever sobre elas. O mais interessante na escrita é quando escrevemos sobre algo que gostamos; se eu estou totalmente entretida nos pensamentos de um silencioso, como posso escrever sobre ele?
   O silêncio não quebra a alma, ele fortalece as expectativas de realizar uma meta. O silêncio se destaca entre os outros e a pureza da mente atrai olhares, mesmo que os pensamentos não possam ser decodificados. Um dia, perguntei a um silencioso como é viver assim.Ele me olhou e não respondeu, retornei a perguntar e, calmamente, ele me falou:
   -Eu experimento de tudo.
   Questionei-me sobre a sua resposta, um tanto esquisita. Ele piscou e retornou a falar:
   -Pessoas eufóricas não experimentam de tudo, pessoas alegres não sabem o que é dor, pessoas tristes vivem no seu próprio mundo. É no silêncio que eu penso.
   -Então, se é isso, não seria melhor que todos nós vivêssemos no silêncio?
   -Não. Eu vivo no silêncio, e é por isso que sou procurado. Se todos fossem silenciosos, o mundo seria homogêneo. As pessoas não se questionariam e todos seriam irrelevantes aos outros. Como as pessoas são diferentes e pensam de uma forma totalmente desigual, eu posso guardar os meus pensamentos elaborados para mim, e os dividir quando alguém diferente vir se questionar sobre os variados modos de pensar. Não sou egoísta, como pode ver, mas devemos sempre repensar antes de agir e falar. Passo grande parte do meu tempo pensando, não por ser introvertido, mas porque eu necessito disto. Para mim, se encontrarmos pelo menos uma resposta para a pergunta que tanto nos atormenta, seríamos pessoas melhores. Como hoje em dia as pessoas não estão dispostas a sacrificar momentos do seu dia para pensar, elas não são tão interessantes para observar quanto eu. Você se pergunta por que eu vivo no silêncio, mas eu não sou assim sempre. Eu tenho uma família e amigos, eu só separo uma parte do meu dia para refletir, e é neste momento em que você me observa. Lembra-se da sua pergunta: por que eu observo as pessoas? Você as observa porque precisa. É instintivo, é da sua natureza querer explorar o outro para melhor se conhecer. É assim que você se define, minha cara colega; quando se conhecem as pessoas, você passa a se conhecer; não por comparação, mas por apenas saber refletir sobre o que você realmente procura. Você sabe o que procura?
   Então ficamos em silêncio, um olhando para o outro. Eu realmente não sabia o que procurava, eu me isolava nos pensamentos de estranhos e nunca tive tempo para os meus. Passei tanto tempo da minha vida pensando nos outros, as suas visões sobre mim e a razão dos altos e baixos com as pessoas. Nunca tive muito tempo para olhar no espelho e ver quem realmente eu sou, e depois de tanto tempo não consigo mais me identificar. Eu sou o que os outros querem que eu seja. Não mais.

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Olá galere! Eu sumi por uns tempos, eu sei, estava mudando de casa e sem inspiração para escrever. Como estava sem computador, tive que escrever meus textos a mão, por isso demorou um pouquinho, pois sou muito lerda para passar do caderno para o computador. Mas aí está um texto novinho em folha! E sejam bem-vindos de volta ao Writeland!