sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Saudade invernal

                   Hoje eu senti algo que nunca havia sentido com tanta certeza. Meu namorado viajou, foi lá para os parques do norte e a cidade com a mais importante bolsa de valores do mundo. Não que ele vá ganhar muito dinheiro com ações, acho que ele já ganhou meu coração com as deles. Acho não, tenho certeza.
                Quando o abracei antes dele entrar no carro eu senti vontade de chorar, ainda sinto, mas as lágrimas não querem descer. Elas podem estar contrariando as leis da gravidade pelo simples motivo de que nada vai acontecer, que eu preciso permanecer calma, firme e forte.
                Como fazer isso? O aperto só aumenta, aquele no peito que parece que vai puxando sua alma lentamente para um buraco negro. Eu senti, pela primeira vez, o que chamam de amor. Não amor de mãe, de pai, tia, irmão. É um amor diferente, um amor de perdas e ganhos, um amor imprevisível, que não sabemos se ele estará lá no raiar do outro dia.

                Eu soube o quanto eu o amo, e olha que é muito. E já no final dessa crônica minhas lágrimas concordaram em cair. Não cair por desistência, mas para aliviar a saudade aqui. Essa que é grande mesmo ele nem estando ainda no ar, esta que prova o quanto eu o amo e o quanto ele importa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Sertão involuntário

" Quando eu parei de contar sobre as minhas lágrimas, meu coração secou. Secou por excesso de lamúrias não compartilhadas, que afundaram os sentimentos e ecoaram até a última gota, para deixar o meu coração um sertão."

terça-feira, 23 de abril de 2013

Dois lados

Todos os dias escolhemos lados: qual lado de uma discussão, qual lado da calçada, qual lada da política, qual lado da sala, qual lado da cama, qual lado da guitarra, quais lados de tudo que tem dois lados. No final, pra mim tanto faz em qual lado estou de você, contando que segure minha mão, tanto faz o direito quanto o esquerdo se tornam um tanto atraentes.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Minhas eternas vírgulas


       Eu vivo de vírgulas, exclamações e pontos finais. É basicamente disso que preciso para viver, são as palavras que fazem a diferença, mas é a entonação que muda o sentimento. É o jeito de cantar e o jeito de cantarolar, saiba que são formas diferentes para momentos diferentes, que dizem quem é você. Eu ando muito feliz por esses dias. Felicidade essa dedicada não só ao meu amor, mas as vírgulas e pausas que ele faz para me agradar. Não é só a voz rouca que me faz bem, é o conjunto todo.
       São os olhos, a boca, as mãos, o jeito de não sorrir, tudo me entorna, tudo me transborda. E é uma sensação tão boa, é um derrame tão espalhado que nem eu sei muito bem como explicar. E as vírgulas tomam outro significado, elas não são mais o principal ponto. São longas pausas, longos minutos respirando e encarando, vendo os olhos virarem estrelas e as mãos cordas, que me seguram.
       Transborde, amor.
       Deixe fluir tudo o que está aí dentro, é tão bonito. Transborde os dias felizes, as memórias agradáveis, os abraços de urso, as palavras delicadas. Que saia pela boca, olhos, poros; mas que saia. Felizes são aqueles que se sentem bem pela felicidade do outro.
       Transborde amor.
       É como uma grande teia, tudo está conectado, todos sentem. Isso que é especial no amor, ele não tem barreiras, ele se molda de acordo com a pessoa e passa adiante, nunca fica preso. Nunca está em um só lugar, ele está em todos. Onipresente. Ele se move no sorriso, no toque, no olhar, até no silêncio. Não é difícil perceber quando alguém transborda amor, e eu não sei explicar, só se percebe. Não são necessárias palavras, pontos, vírgulas.
Eu vivo de vírgulas, pausas, admirações. Miragens reais, dias irreais. Faz diferença na minha vida, eu amo isso. Eu amo transbordar e perceber que outros também o fazem. Eu me sinto tão normal, mas ao mesmo tempo surreal. Novamente eu não consigo explicar claramente como isso age em mim, em nós. As pausas são o ponto. Nelas que conseguimos ver a beleza do momento, do sentimento. Entender, nem que seja só um pouco, esse nosso universo louco. E são elas que mudam frases e sentidos com as suas vírgulas. São elas que moldam grandes declarações e sentenças significativas.
       Transborde, amor. Transborde amor.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Trincas

        Eles me chamam de desastre, porque eu abalo tudo. Abalo terras, corações, sorrisos, multidões. É a simples arte de se ter presença e fazer um bom uso dela. Eis que para eles não é assim. Sou mais um terremoto do que uma chuva de verão. 
        Triste são aqueles que só chovem, não abalam. Estes não trincam chãos, não pulam dos abismos por receio do fundo, não trocam olhares por medo do inseguro. Eu tenho pena deles, não tenham pena de mim.
                        Eu sou o desastre natural que veio te por no eixo. Às vezes é necessário um empurrão, um sorriso, uma mão.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Ousada escuridão



                É uma mistura de admiração e pavor, e eu tenho dito a mim mesma que não tomarei desta bebida. Eis que você me entorna e me consome, e juntando todos os nossos fluidos eu sei que isso vai dar uma baita mutação.
                Alguém me disse que os mais fortes sobrevivem, e que a genética muda para nos adaptarmos ao nosso meio. É por isso que nos misturamos, modificamo-nos? Para eu caber no seu meio e você no meu?
                E dentro da água, nesta imensidão eu vejo você. Eu vejo os seus olhos, essa mistura de admiração e pavor. É uma mistura escura, e é isso o que significa o seu nome. Escuro. E eu vou caindo nesta escuridão, nesta mutação, neste meio.
                Chame do que quiser, chame do que for mais propicio. Porque alguém, um dia, disse-me que desenhar acalma, e desde então eu tenho desenhado o futuro. Essa mistura louca de eu e você, que eu tanto quero e tanto adio.
                Vai ver que gritar ou agarrar um braço só pra sentir a presença seja algo comum, só pra chamar um nome e ouvir o seu de volta. Isso não é bom? Alguém saber o seu nome, e mais do que isso, gostar de dizê-lo.
                E eu vou juntando nossas águas e nossas lágrimas, pra ver se nesta imensidão de mar o único nome que ecoa são os nossos.

quinta-feira, 7 de março de 2013


      A aleatoriedade a pegou, e agora tudo é muito distante. Os amores, as amizades, as indas e vindas. Nada se finda, nada se consome. Tudo é inesperado, porque ela fez assim. E agora os dias passam esperando por algo inusitado, que nunca vem. Ele nunca vem. Maldita aleatoriedade.

domingo, 3 de março de 2013

Pinhos de cristais



                Eu vejo pinheiros cobertos de neve no meio do outono, e acho isso tão bonito. É uma singularidade que aqui nunca tenha essa diversidade de estações. Todas são brancas, todas são de flocos, todas são geladas. E as borboletas nunca pousam por aqui, e volte e meia eu vejo uma raposa se camuflando atrás dos pinheiros.
                Não me pergunte o nome da minha cidade, é muito particular assim como as lagoas congeladas no meio da floresta. São poucas as coisas atraentes aqui, os pinheiros chamam atenção por serem altos, imponentes. Há pequenas lagoas espalhadas pela floresta, que eu costumo chamar de minha. Aí está uma boa história, quando eu caí em uma delas.
                Correndo de não sei o que, com medo nos olhos e marcas de galhos nos meus braços eu deslizei e quebrei o gelo. Caí. Afundei. Congelei por um instante. Meus sentidos foram todos absorvidos e desviados para um só pensamento: a morte. Uma morte gélida, branca, escondida. Não movia os braços, as pernas, apenas descia até encontrar um chão. Eu nunca encontrei este chão.
                Encontrei pinheiros, uma floresta deles, pontas altas cobertas de neve. Encontrei olhos castanhos, buracos negros de pinheiros que não me sugaram a vida, mas a devolveram. E eu não pude gritar, não tinha mais voz, e ele só me calou com as mãos quentes, me abraçou e levou-me para casa.
                As borboletas nunca pousam por aqui, mas aqueles olhos negros sempre passam pela minha casa, para ver se eu estou bem, para ver se eu não abro outro buraco no gelo. Para ver se eu não abro outro buraco no tempo que fez daquele dia de inverno um dia de verão. Talvez eu só veja pinheiros durante toda a minha vida, talvez eu só veja o branco da neve, mas sentir, eu sempre sinto.
                Eu sempre sentirei o calor das mãos, o frio da água, o medo da morte. Eu sempre sentirei algo me puxando para fora, para fora do frio e da angústia. São muitos dias de inverno, são pinheiros muitos altos para escalar, são pessoas muito distantes para gritar. Mas um dia tudo vem, tudo puxa, tudo muda. É como um buraco negro, que tudo suga.
                Só que no meu caso, ele devolve.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Damas e valetes


            A aleatoriedade é algo engraçado, dizem que é quase um trabalho do destino. Encontrar um amigo na volta de casa, trocar de calçada e avistar um vizinho, ficar até mais tarde na escola por motivo nenhum e ir de trem com aquele garoto que você conheceu na semana passada. Esbarrar na sua paixão e ver que ela já encontrou outra.
            Talvez não seja tão bom assim, dizia Marcelo. O pequeno Marcelo, não tão pequeno assim vivia com a cabeça no mundo da lua, mas digamos ser dos baralhos. Ele era mais o valete de sua vida, sempre em segundo plano. E quem mais arrancaria o rei da sua carta de espadas? A rainha de copas, a sempre aleatoriedade de encontrar corações buscadores de amor. Sim, ela a pôs ali para o pequeno valete que foi derrotado pelo rei destino.
            Esse destino que tanto brinca conosco. Marcelo era o valete, a torre, nunca o rei. Eis que num surto de sorte, quem sabe a sua nomeação, o bispo come todos os cavalos, os peões tornam-se rainhas e o valete um rei de espadas.
            Protegido pelos áses e pela rainha, menos atacado do que qualquer coisa, o cheque mate não tardaria a vir.
            A aleatoriedade é algo engraçado, no mínimo interessante. E Marcelo não era exceção, era a minha vida, a dor que consome a tinta das cartas e do tabuleiro. Porque tudo é um jogo, e hoje em dia nem par ou ímpar eu tenho ganhado.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Meia luz

      Meia lua apareceu no céu, depois de tanto tempo sem ver a sua luz. E assim como ela tudo está pela metade. Todos os meios sorrisos mostram meios corações, partidos. É um infarto global na minha vida, em todas ao meu redor. E só eu sinto a dor, porque só eu vejo a lua. Só eu olho para o alto. Só eu tenho coragem de juntar os cacos. Os meus, os seus, e fazer deles uma só lua cheia.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Dó mi sol

E o que vão dizer
Se gosto de repetir
A mesma história?

Fixar os momentos,
Compreender
O que não entendo,

Eu já perdi a conta
Dos poemas destinados
Só a você,

Então eu escrevo
Só por diversão,
Solidão,

Vai que você lê
Vai que você percebe
Vai que você comenta,

Tudo é possível,
Já que eu vivo repetindo
A mesma história com você.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Linhas silenciosas


      Na minha casa não tinha telefone fixo e nem móvel, as crianças passavam o dia conversando na rua, os adultos trabalhavam e se viam ao anoitecer, os idosos sentavam-se na frente de suas casas com seus rádios de pilha e volte e meia se entreolhavam, como se soubessem segredos íntimos dos vizinhos, e sabiam. Os adolescentes eram uma mistura de tudo isso, eu era um deles.
      Não saia de casa se não houvesse um bom motivo, e na busca deste passava longos minutos espiando a rua da janela, na esperança de alguma menina bonita e conhecida passar. Quando isso acontecia eu descia as escadas e aparecia na porta como uma grande coincidência. E nesses momentos passava horas a fio conversando sobre o que hoje é banal. Outras vezes eu ia à padaria, ao jornaleiro, lugares simples que eu buscava o que necessitava em casa e ainda via as beldades na rua. E tinham aquelas que eu tomava coragem de ligar.
      Perto da minha casa existia um telefone público, não como esses orelhões de hoje em dia, eram cabines grandes na minha concepção, e nunca havia fila. A primeira ligação que fiz foi dali. Digitei um número qualquer que veio a minha cabeça e uma voz feminina atendeu do outro lado. Falamo-nos pouco, ela ficou confusa e acabou desligando o telefone. E eu só ouvia o tu-tu do final da ligação. Não foi uma das melhores, mas todos os dias eu ligava na mesma hora, e a mesma voz atendia.
      O nome dela era Flávia, trabalhava na confeitaria do seu pai, pelo que me contou, e a cabine encontrava-se na frente do estabelecimento. Era gentil, da minha idade. Pensava na sorte de ligar para um número distante e logo uma menina atender, e uma menina que gostava de conversar comigo.
      Eu não me lembrei de perguntar qual era a sua daquela cabine, nossas conversas eram tão boas que tinha até medo de vê-la pessoalmente. Arrependo-me até hoje por este ato, poderíamos ter sido namorados, casar-nos e assistir nossos filhos crescendo enquanto envelhecíamos juntos.
      Eu me mudei para Florianópolis com os meus pais, pude ouvir seu choro pelo telefone. Ela disse que sentiria minha falta, e que pensaria em mim todos os dias. Eu me fui, triste, mas fui.
      Na minha casa não tinha telefone fixo e nem móvel, hoje em dia tudo está computadorizado que eu mal me lembrava de Flavia. Foi aí que tive a grande ideia de um passeio até a minha casa antiga, já que eu havia voltado para o Rio. Por mais incrível que pareça a cabine continuava lá, hoje pouco utilizada. Digitei o mesmo número, agora acrescentando os dígitos novos na frente.
      - Alô?
      - Flávia?
      - Sou eu, quem é?
      - Igor.
      A voz se calou, e tudo que eu pude ouvir foi um suspiro seguido pela pergunta que eu mais queria:
      - Qual o número do seu celular?

terça-feira, 1 de janeiro de 2013


O medo é tão repentino que chega ser belo, não?

Nossas ideias


      Essa história de não se importar com os outros, com a opinião, expectativas alheias, isso tudo é besteira. Eu me importo com o que os outros pensam e falam, espero muito deles, e ás vezes até não recebo o que mereço. Não fico chateada com isso, eu escolhi com quem me importar. Não basta virar as costas e se rebelar contra o mundo, é sempre bom esperar algo de quem se gosta.
      Crie expectativas e esperanças nas pessoas que você confia. Importe-se com quem realmente merece a sua atenção. Coisas simples foram feitas para serem percebidas por olhos atentos, e quem liga para nada não as percebe.
      Importe-se com os pequenos detalhes, eles te fazem ser quem você é, mesmo sendo nos outros.