quarta-feira, 28 de março de 2012

Ofuscação eterna


Quando me sento à janela
O vento bate em meus cabelos,
O negro percorre o meu rosto
E as sensações me dão medo,

Eu tenho medo do novo
Tenho medo do que não possa ver
Este turbilhão de sensações
E o culpado é você,

Ando querendo parar com isso,
Ando querendo sentir isso,
Ando confusa
Ando confundindo,

E por que não ser cega?
Não enxergar as desavenças da vida
Sentir cada coisa onde está
E cada coisa em seu devido lugar?

É melhor misturar
Embaralhar tudo de uma vez,
Porque se o amor é cego,
É melhor andar de mãos dadas com você.


Pauta para Bloínquês. 81ª edição poesia. Tema: Por que o amor é cego?

domingo, 25 de março de 2012

Suplícios divinos


            
            Nunca pensei em como morreria, se seria de velhice, de amor ou de amargura. Esperava ser uma morte rápida, não uma morte estúpida. Eu corria pelo jardim, livre. As gotas geladas do chafariz caíam sobre mim, sobre o meu vestido carmim, e eu não me importava. Eles estavam fazendo a coisa mais horrível comigo, obrigar-me-iam a me casar com um maluco, com um insano, com alguém que eu não amava. Aquele era o meu único e último momento livre, antes deles me amarrarem a um marido amargo. Nunca pensei que morreria pelas mãos de um padre, pelas mãos de um casamento.
            Nita me olhava pela janela, ela sentia mais ódio de mim do que o próprio demônio, e tudo aquilo era diversão para ela. Santa prima que achavam ser assim, mas era um tormento, um estorvo, uma maldição caída sobre mim, para punir-me de pecados que nunca cometi.
            O dia da minha condenação, o dia do meu casamento. Pela fresta da cortina avistava Sir. Herman com toda a longitude, vestido com o seu paletó francês, desembarcado na noite passada. Os convidados esperando, todos em seus lugares, e as cortinas me protegendo de um pesadelo. Apenas Oliver parecia se importar, procurava-me por entre as pessoas, estava aflito. Fechei os meus olhos e pedi por um milagre, o único que já havia requisitado. Oliver surgiu por trás de mim, abraçou-me, com seu cheiro inebriante e seus cabelos ruivos, acolheu-me nos seus braços quentes, e eu já não me sentia tão perdida.
            - Oliver...
            - Lílian, você tem que ir, já estão preocupados.
            - Oliver, eu não posso.
            - Quem dera eu pudesse te tirar daqui...
            Eu o olhei, pude ver a sua alma clamando por isso, pude ver a minha alma desesperada nos seus olhos. Corri para fora da igreja, o vestido branco arrastando no chão, Oliver paralisado na porta e uma grande ponte à minha frente. Não pensei muito, pulei. Senti o corpo pesado, alguém me puxando, trazendo-me à vida.
            Meus olhos se abriram, estávamos na rua de pedras, ao lado da ponte, todos vestidos a rigor. Ainda era o dia do meu casamento, e eu não tinha morrido. Triste peça o destino havia pregado em mim, nem a morte me queria por perto. Sir. Herman me olhava estaticamente, Oliver mexia nos meus cabelos e seus olhos estavam aflitos.
            - Eu estou grávida!
            Coragem. Coragem foi a palavra que melhor definiu o que eu senti. Minha mãe teve uma recaída, meu pai um ataque, e Nita só me olhava, aplaudindo o teatro.
            - Não creio que Sir. Herman se aproximou de minha pequena filha! – Meu pai já se atracava com o meu noivo.
            - Estou grávida do Oliver.
            E todos me encararam. Oliver nunca tinha nem me beijado, eu era virgem de corpo e alma, mas precisava mentir. Ele me pegou no colo e confirmou a história.
            - Eu a levarei comigo.
            - De maneira alguma. – Meu pai gritava.
            - Ela precisa descansar, precisa respirar, falaremos disso mais tarde.
            E ele me carregou até a sua casa, não fomos seguidos ou coisa parecida. Meus pais já não me queriam mais perto, havia estragado os planos de ser rica com Sir. Herman. Oliver me pôs na cama.
            - Por quê? – Ele questionou.
            E eu o beijei. Ele me abraçou forte, enquanto eu o prendia. Os corpos se fundiam, e a sensação de nada era tomada por um calor. A sua mão afogava-se no meu cabelo negro despenteado, o beijo se tornava poesia. Os lábios não se separavam, as mãos prendiam-se aos corpos, a saliva era só uma, o sabor de fruta madura perdurava, e eu tremulava contra ele enquanto tudo se adocicava.
 Eles descobririam aquela mentira em poucos dias, mas eu e Oliver já estávamos longe, muito longe de nossa pequena vila. Resolvemos seguir estrada à fora, esquecer o passado e viver o futuro.
Nunca pensei em como morreria, se seria de velhice, de amor ou de amargura, mas tinha certeza que seria com Oliver ao meu lado.

Pauta para Bloínquês, 111° edição conto/história. Tema: frase em negrito.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Iniludíveis e ludibriados



     O tempo é indeciso
     O tempo é temeroso,
     Mas nós temos no tempo
     A esperança do suntuoso,

     Melhoras no futuro
     Expectativas em alto
     Mas de que vale tudo
     Se eu sou o alvo?

     Eu que sofro com ausência
     Não, não solidão,
     Algo que havia avisado
     Algo sobre administração,

     O tempo é administrável
     E você o faz muito bem,
     O quadro geral é o problema
     Não esqueceu de alguém?

     Os abraços e beijos
     São algo importante
     Apenas o que temos
     Ternura inconstante,

     O tempo se vai com seus amigos
     E o meu, se esvaecesse,
     Não se preocupe com as aplicadas
     Não são elas que me aborrecem,

     É você não se lembrar
     Que eu também existo,
     Que tenho sentimentos
     E eles estão vivos,

     E aos poucos eu me vou,
     Como o vento na janela,
     Que alguém fechou
     E ele desistiu da fresta.

terça-feira, 20 de março de 2012

Layout novo

Finalmente eu troquei o layout, estava na hora! 
Esse eu ganhei em um concurso no Mega Blog. Quem fez foi a M!h Braga, e ficou lindo na minha humilde opinião.
Aqui está o link da entrevista que eu fiz e do blog dela, para quem quiser encomendar. Sabe, a propaganda é a alma do negócio.

sábado, 17 de março de 2012

Clímax

       
       Eu vivi momentos tristes
     Os quais não quero lembrar,
     E o pior que você faz comigo
     É fazer com que eu me sinta lá,

     Ignorando-me nas horas vagas
     Excluíndo-me dos seus grupos
     Ocultando segredos
     Tornando-me obsoleta,

     E quanto tempo já se foi
     Há quanto tempo estamos aqui?
     Esperando por um movimento seu
     Esperando você sair,

     Da sua zona de conforto
     Para me mostrar seus medos
     Da sua concha lacrada
     Pelo seu desespero,

     Saia e veja a luz do dia,
     Saia e me veja,
     Saia, e por favor
     Finalmente perceba

     Eu sairei pela porta
     Direi adeus aos seus olhos,
     Suba logo no banquinho
     E faça seu prólogo,

     E no ato final
     Sem mais delonga
     Vire homem
     E me chame de dama.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Amor, Marie?

     - O que é amor?
     - Um dia o meu pai me levantou tão alto que eu pude tocar o teto, e eu me senti como uma heroína.
     - Mas o que isso tem a ver, Marie?
     - Um menino também me levantou um dia.
     - O no que você pensou?
     - Em nada. Pra mim isso é amor. Não pensar em nada e sentir tudo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Caroável amigo

   Nem tudo na vida é muito certo, principalmente se tratando de amor. Existem aquelas tais paixões platônicas, que pelo menos comigo, aconteciam todo ano com o garoto mais bonito da turma. Mas não ano passado; com os meus catorze anos nas veias eu gostei de um menino mais velho, de um menino tímido, de um menino comprometido. Sabe-se que eu não sou lá uma conquistadora, então me encolhi na minha concha para não sair mais, não para aquele menino.
     Mas como já disse que tudo não é certo, eu voltei a me apaixonar por ele, e com quinze anos eu já havia aprendido a ser tão cara-de-pau quanto a minha melhor amiga. Sim, ele se tornou meu amigo, como tantos outros, e eu estava feliz por ele estar ali, perto de mim, dividindo o mesmo grupo.
     "E o amor, onde se encaixa?", eu gritava para mim mesma. E em meados dos meus quinze anos, eu me declarei, eu o agarrei, eu simplesmente deixei fluir tudo o que estava preso em mim, tudo o que eu havia guardado por tanto tempo.
     Ele é a minha alegria de acordar todos os dias cedo, de demorar uma eternidade para ir à escola, mas do mesmo jeito chegar abraçando todos. Ele me faz rir, faz-me sentir bem, consegue tirar de mim histórias que eu não repetia a mim mesma. E ao mesmo tempo se afasta, deixa aquele gosto de saudade apertada no peito, fica frio e depois esquenta.
     Nós somos problemáticos, e como todos os meros mortais, gostamos do puxa-empurra da vida. Somos maleáveis, somos amargos, somos caroáveis, somos duas pessoas que se gostam, mas não se rendem um ao outro.
     Sim, ele é especial, mas não pode saber disso. Ou melhor, pode sim, mas nunca terá a certeza que isso é para sempre. A distância nos faz querer mais, a saudade esquenta os nossos peitos, os beijos doces não são o pão de cada dia, mas a bomba de chocolate da sexta-feira.
     E nesse ritmo nós vamos vivendo, ele vai continuar me segurando, e eu continuarei abraçando-o. Nem todos sabem, muitos desconfiam, mas a certeza que eu tenho é que o sentimento é especial, e eu não posso pará-lo, eu não quero.
Pauta para Bloínquês, 97ª edição opinativa. Tema: Quando conheci você...


sexta-feira, 9 de março de 2012

Paraíso de penas


   No mesmo banco de sempre eu estava sentada, com meus pensamentos perdidos no livro a minha frente. Ele surgiu do nada, um vulto qualquer ao meu lado com um grande sobretudo preto. Tinha as melenas soltas pelo rosto, escuras como breu e molhadas com o suor. Seus olhos azuis saltavam, mas sempre voltavam ao chão, tentando passar despercebido. Então, uma pena caiu, leve, destacou-se no chão negro, e eu corri para pegá-la. Quando o gritei ele já havia desaparecido.
     A pena, grudada com fita adesiva, decorava a minha parede branca, quase não se percebia a presença dela. Todos os dias eu a encarava, tentava decifrar aquele homem pelo pouco que recordava. Um dia a pena não estava mais lá. A parede branca como cal, e a minha cama coberta com penas. Olhei atenta àquele paraíso, e me joguei sem medo na cama, o que fez as penas se espalharem por todos os lados.
     Ele estava na janela, parado, encarando-me. O mesmo sobretudo e os mesmos cabelos molhados. O mesmo jeito tímido de antes. Caminhei até o peitoril, receosa da minha escolha.
     - O que é isso? – Segurava uma das penas.
     - Isso se chama pena.
     - Quem é você?
     - O homem das penas, apenas. – Entregou-me mais uma pena, que era maior do que as outras, e sumiu enquanto eu a admirava.
     Gritei da janela, olhei, procurei, mas ele havia ido. As escadas vazias, as janelas trancadas, e eu confusa, mais uma vez. E naquela e em muitas outras noites, as penas me fizeram companhia.
     Ele aparecia todas as tardes, cada dia com uma pena, e eu as colava na parede, uma por uma.
     - Não está muito cheio?
     - A parede? Está leve.
     - Não havia me dado conta que já te dei tantas penas assim.
     - Onde você consegue tantas?
     - Eu tenho um grande estoque. – Ele ficou em silêncio, sorriu. Aquele sorriso grande, que me encantou de primeira. – Eu quero te mostrar uma coisa.
     Estendeu a mão para mim, e eu a agarrei, desapegando-me de todas as dúvidas que eu tinha sobre ele.
     - Você nunca me disse o seu nome.
     - Miguel.
     E nós subimos uma pequena colina. As nuvens estavam baixas, nós sentados na grama verde e ele com a mão na minha.
     - Era uma vez uma montanha muito alta, era imponente e seu ego o mais alto possível. Eu nasci nesta montanha. Um dia veio uma chuva incomum, e a destruiu. Diminuiu-a um pequeno morro, uma simples colina. Eu nasci nesta colina. E todos os dias eu volto nela, para admirar a vista que não foi tirada de mim. E aqui está vista, tudo o que seus olhos alcançam sempre foi meu, sempre foi dos meus olhos.
     E eu olhei, avistei até onde os meus olhos alcançavam, entendi a pureza daquele local. E havia penas espalhadas pela grama, faziam uma trilha como neve em um dia frio.
     - Eu não queria ser assim, ser diferente dos outros. Você merece as minhas penas, eu não. Por isso eu me desfaço de cada uma, a cada dia, mesmo que seja tão doloroso.
     - E você já se desfez de todas?
     - Essa colina sempre será uma montanha, sempre terá a matéria de uma. O lugar onde eu nasci sempre será aqui, não importa se a vista mude. As penas sempre farão parte de mim, mesmo que eu tente arrancá-las.
     - O que você teme? – Perguntei enquanto me aproximava para abraçá-lo.
     - De você não me amar. – Ele se afastou.
     Caminhou de costas até a queda, jogou-se. O tempo parou, eu parei: de respirar, de viver por segundos inalcançáveis. Corri até a queda.
     Ele apareceu sem o sobretudo, com grandes asas brancas como o leite. Sumia por entre as nuvens, passeava por entre as árvores, amostrava para mim o que mais odiava nele. E em um súbito momento de loucura me joguei. O vento batendo em meu rosto, os olhos fechados, as sensações nos seus ápices. Suas asas roçavam em mim, seus olhos me encaravam, seu sorriso não existia.
     - Eu te amo.
     E o sorriso manifestou-se.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Gamaste tanto assim?


     Muitos dizem por aí serem apaixonados de plantão, corredores natos em função do amor. Gamam em tudo o que podem ver: além do horizonte e pelos sete mares, tudo é de vocês, queridos apaixonados. E este termo é o que mais me intriga: gamar. Pelo o que eu sei, este verbo significa roubar do alheio. Então, eu me pergunto como interfiriram neste verbo para acrescentar o valor de 'gostar' na palavra.
     Este não é mais um texto enorme, mas sim para pensarmos em como falamos e agimos de forma tão simples, que nem percebemos que existem coisas erradas, fora do seu devido lugar. E sabemos que temos que dar o seu real sentido, ou pelo menos uma explicação que valha a pena.
     Não, esta não foi uma palavra ao acaso, pelo fato do seu significado ser roubar, ela cabe muito bem na maioria das vezes. Não preciso lembrar que quando o amor chega, ele nos rapta, tira-nos do mundo real, e o nosso coração é roubado, simplemente dado à uma pessoa alheia que, com tantas qualidades e defeitos, nos encanta. Está é uma ótima palavra para definir o que sentimos quando estamos perto de alguém que amamos.
     Game, game muitas vezes por dia, e se possível, com a pessoa que você mais gosta. Game no seu carinho, na sua atenção, nos abraços, nos sorrisos, nas coisas boas que te fazem feliz. E no outro sentido, que se encontra aqui no mundo real, game os medos, as incertezas, as aflições e a distância dessa pessoas que você ama tanto. Porque o amor é assim, feito para gamar e ser feliz.