segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Missões únicas


      Rio de Janeiro, 22 de maio de 1962.

            Alberto,

      Olá pequeno viajante deste mundo. Devo começar esta carta com uma simples pergunta: "gostou da sua estadia?". A maioria dos que estão ao meu redor reclamam do pouco tempo que tiveram, da falta de oportunidades e o desconhecimento do amor. Culpam-me por tudo, dizem que sou negra e do mal, pois lhe digo agora para não haver confusões mais tarde. Não sou maligna, realizo apenas o trabalho que foi designado a mim, não tiro a vida das pessoas, apenas as acolho quando não há mais o que fazer na Terra. Concordo que muitos me acompanham cedo demais, mas não por minha culpa. Pessoas ingratas, ignorantes, que não encontram um equilíbrio na vida acabam por aqui antes. Agora você se indaga que muitos artistas se foram antes dos trinta anos, explico-lhe o porque. Algumas pessoas nascem destinadas a fazer algo grandioso, mas elas tem tanto potencial que espalham a sua mensagem rapidamente, e convencem até os mais céticos. Essas pessoas, em determinado ponto, já completaram a sua missão e não têm mais aquela vontade de continuar. Só que você deve lembrar que eu não trabalho sozinha, o meu chefe fez os humanos para que vivessem por várias décadas, alguns chegam a um século, para concluir o seu encargo. Quando ele é completado muito cedo, elas recorrem a métodos inseguros para tentar, de algum jeito, chegar à uma novaa missão. Então, o problema é este, as pessoas só tem uma incumbência na vida, e nada fará que ela ganhe outra. Respondendo, finalmente a questão, os que chamamos de artistas morrem mais cedo pela busca incansável de algo novo para se fazer, pois vocês, humanos, não conseguem ficar parados no tempo. Quanto aos ignorantes que chegam por aqui mais cedo, eles simplesmente não aceitam a sua função, e querem mudar rápido demais. Estes são levados para não desequilibrar o mundo.
      Tem aqueles que não possuem oportunidades de florescer, nasceram pobres, em uma família desestruturada ou até com boa condição, mas com falta de vontade. O que eu posso fazer por eles é só apressar um pouco mais, para que a dor deles não seja tão grande.
      Voltando para o meu questionamento sobre a sua estadia, sei que soube aproveitar a missão que lhe foi dada. Agora, posso lhe dizer qual foi: "Faça os homens rirem, pois entre os ludíbrios das suas ideias eles se tornam amargos. Através do riso dará ao homem a esperança, conhecerá o interior deles, e aquietará suas intranquilidades. Sua missão é expandir o bastante até atingir cada recanto onde haja escuridão, e levar aí a luz." Parabenizo-o por ter a cumprido tão bem, e antes que se pergunte como você a fez, peço para lembrar da sua infância, dos seus conselhos, das suas piadas. Quando adulto, recorde-se do seu trabalho, as casas que fez que alegraram tantas pessoas, o tanto de conhecimento que teve sobre o interior das pessoas, para que elas se sentissem seguras nas suas casas. Agora, busque em sua memória a última coisa que fez antes de sua amada partir. Você a fez sorrir. Mesmo com todas as doenças, comigo ao lado dela, a sua paixão se perdendo, você a fez se alegrar.
      Estou orgulhosa de você, meu amigo, e é por isso que hoje chego tão tranquila à você. Sei que mesmo sabendo que a sua hora chegou, sorrirá para mim, pois esta é a sua missão, está é a sua vida.

                                    De uma amiga acolhedora,
                                                                Morte.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que você faria?



O que você faria
Se fosse o seu último dia?
Correria pela avenida
Seria um suicída,

Abraçaria todos na rua
Dançaria na chuva
Escalaria o Pão de Açúcar
Comeria granola com fruta,

Nadaria nu no mar
No chuveiro iria de roupa
Passearia pelo Rio de Janeiro
Pintaria o cabelo,

Pegaria um avião
Só pra ver o céu e a sua imensidão
Beijaria o amor da sua vida
Nadaria de sapatos na piscina,

Adotaria um cão
Um gato, uma coruja, um gavião
Impressionaria aquela menina
Diria o que sente aquele menino,

Fumaria só pra saber o gosto
Fingiria que é carnaval pra fazer alvoroço
Pularia de uma ponte
Teria um codinome,

Cantaria karaokê
Imitaria um francês
Cortaria o cabelo
Gastaria dinheiro,

Visitaria seus antigos amigos
Amaria sem compromisso
Iria à um show
Andaria de elevador,

Desenharia
Apostaria
Seria um mágico
Compraria um carro,

Chamaria alguém de perfeito
Fingiria ser estrangeiro
Viajaria para o campo
Quebraria um espelho,

Plantaria uma árvore
Veria o sol nascer
Pediria perdão
Gritaria em uma multidão,

Iria à academia
Acamparia
Andaria de skate
Mascaria dez chicletes de uma vez,

Abraçaria o seu filho
Faria amor com o seu marido
Conheceria o seu ídolo
Escreveria um livro,

Rezaria
Dirigiria
Demitir-se-ia
Rosas colheria,

Comeria muitos doces
Fotografaria as pessoas
Pintaria um quadro
Assitiria uma aula de teatro,

Contaria estrelas
Usaria o telescópio para ver planetas
Ligaria para o seu melhor amigo
Abriria a porta do hospício,

Gastaria todos os créditos do telefone
Entraria em uma fonte
Responderia à um policial
Faria um comercial,

Taparia a boca do seu amigo com durex
Leria sobre a internet
Compraria uma câmera
Dormiria na varanda,

Viraria uma guitarrista
Salvaria uma vida
Ou simplesmente morreria?
Se me restasse um dia, eu aproveitaria,

De todos os meus arrependimentos
Eu me arrependeria
E morreria feliz
Por tudo o que fiz nesta vida.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os caminhos da lágrima


Enquanto ele gritava comigo, eu pensava que podia estar em um lugar melhor, com uma pessoa que realmente me merecesse. Eu era tão apaixonada por ele que não conseguia ver os seus defeitos, mas a sua voz rouca e doce se transformou em um trovão, e isso que fez acordar de um sonho muito bom. Ele nunca me ameaçou, e não seria dessa vez que faria, mas quando ousei abrir a porta do quarto ele me puxou e minha mão fez uma marca em seu rosto. Ele me olhou com ódio e me empurrou, fazendo com que eu batesse a cabeça na parede. Fiquei atordoada, demorei alguns segundos até vê-lo novamente, então eu agarrei o vaso de cerâmica e acertei sua cabeça. Ele caiu, estava nos meus pés, o sangue começou a escorrer acompanhando as minhas lágrimas.
Dentre uns dez minutos, eu estava no carro do Miguel, com o Rafael no meu colo, segurando uma toalha contra o seu ferimento na testa. Repetia comigo mesma o pedido de desculpas, por ter o machucado tão seriamente. Ele abriu os olhos, aquelas grandes azeitonas pretas me encarando, e dos seus lábios soou: desculpe-me.
Continuei olhando para os ombros de Miguel, estava muito chateada e vulnerável para olhar nos olhos de Rafael. Minhas lágrimas escorreram e caíram no seu rosto, e neste momento eu senti a sua mão nas minhas costas. Eu pude entender, ali, sentada naquele carro, que tudo poderia acontecer, e que eu fora perdoada, e que só faltava eu o perdoar. No tempo certo, ele entendeu.


Pauta para Suas palavras. 31ª edição imagem. Tema: Imagem do texto.

1° lugar!

domingo, 4 de dezembro de 2011

2 ANOS!

O Writeland fez 2 anos!

Nossa, eu esqueci completamente, e não foi só isso, eu parei de escrever aqui. Estou sem inspiração e tempo, mas agora que eu passei para o 2° ano no Cefet/RJ e estou de férias, acho que tudo vai melhorar.

E que venha mais um ano!
30/11/11

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quem sabe ao despertar



Uma colina. Dificilmente seria possível encontrar cena mais meiga do que um casal de adolescentes deitados sob uma robusta árvore lá no topo. Talvez tocassem o céu,talvez não...mas certamente tocavam um ao outro em um abraço carinhoso enquanto observavam a magia que existe em todo pôr-do-sol.
      A garota, bela como uma deusa ou talvez delicada como uma donzela, deita sobre o garoto, espalhando assim seus não tão longos cabelos que se desdobraram e desenrolaram-se pela grama em uma bela dança mística que agradou até mesmo o deus do mais longínquo reino. O garoto, que a permite tal conforto para que possa admirá-la ao longe, sem ser percebido... Como fazia em cada oportunidade.
      Ali,sobre o pôr-do-sol, se fazia um momento raro para o menino: estavam sozinhos. Sem amigos, sem parentes... só os dois. Isso já ocorrera antes. O momento em que o menino prometera para si mesmo que o faria se transformar em homem, E como homem, revelaria a ela a verdade; o que sente. Mas então, assim como nas outras vezes, algo o impede. Ele se pergunta o que seria essa mão em sua garganta... Sufocando-o e o impedindo de proferir uma só palavra. O que o estaria fazendo sentir essa tontura... Essa falta de ar.
      A bela menina observava com seus brilhantes e profundos olhos castanhos a última coberta avermelhada que se fazia sobre a colina e o resto da cidade. O espetáculo agora se transformava... a exorbitante energia que vinha do calor avermelhado do sol tinha seu lugar tomado pelo brilho celestial das estrelas... que observava o casal com alegria ou talvez com apreso. O garoto toma uma decisão. Será forte!
      Ao tentar falar, suas palavras não alcançam seu destino, ficando no meio do caminho em sua garganta, vítimas da falta de ar, que nesse momento fazia o garoto sentir tonturas.
      Tenta de novo.
      -Sabe... As vezes eu imagino como será minha vida no futuro...se eu manter meus arrependimentos. - o garoto finalmente conseguiu a coragem que precisava para suas primeiras palavras. Agora deveria continuar – não quero manter meus arrependimentos!
      A menina permanecia lá parada... de fronte para o ainda azulado céu cheio de incontáveis diamantes daqueles que nunca serão tocados por nenhum homem.
      -Somos amigos desde me entendo por gente. Existem coisas sobre mim que apenas você sabe. – o menino abre um sorriso e passa a mão por sobre seus cabelos desgrenhados – acho que você é a única pessoa no mundo em quem confio totalmente...
      A menina, imutável, permanecia deitada, com sua pele extremamente branca contrastando com o forte verde do gramado.
      -O que quero dizer é que com você sempre foi diferente. Você é especial, logo, o que sinto por você é especial.... Eu te amo. – e o garoto deixa sua cabeça descansar apoiada no tronco da forte árvore.
      Uma colina. A lua ilumina e honra ao que seria uma cena quase insubstituível. A menina descansa seu corpo sobre o jovem garoto, que a observa, incansável, deixando sua mente correr do glorioso ao obscuro e por fim no angelical. Angelical como a menina que adormecia em seus braços, a menina a quem ama o jovem garoto, ainda um garoto.
      -É engraçado encontrarmos esse luar em um lugar tão especial como este. Fico feliz de estar aqui com você, mesmo que não esteja me ouvindo. Pena que não tive coragem o suficiente.
      -Quem sabe ao despertar.

Texto do meu superamigo Pedro Henrique Miranda Gomes, futuro escritor, guitarrista e alguma coisa a ver com mecânica.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Piquenique no parque



      Eu nunca quis que nenhum dos meus relacionamentos acabasse, mas eu penso que é impossível duas pessoas tão diferentes continuarem juntas. Não sou madura o suficiente para entender isso, pelo menos acho, não desejo descobrir no futuro que o que eu sabia era verdade, quero algo bonito e verdadeiro. Isso acontece com o meu namorado também, estamos juntos à cinco meses e nos vemos, no máximo, duas vezes por semana. Eu afirmo que não precisamos ficar juntos todo o tempo, pois este é o grande problema, toda essa 'chicletice' com os namorados. Eu penso que temos que ter o nosso espaço, e quando bate a saudade de alguém, nós marcamos e nos vemos. Ele nunca reclamou, eu sempre achei que estava tudo bem. Até o dia em que ele falou:
      - Fernanda, eu estou cansado.
      - Cansado de quê?
      - De nos vermos tão pouco. Eu sinto a sua falta.
      - E eu também, mas não estamos a matando agora?
      - Sim, mas então você vai embora e o buraco no meu peito se abre novamente.
      Sim, ele reclamou muito depois disso, ficamos discutindo o que era melhor, usando os argumentos que tínhamos: a minha razão e os sentimentos dele. Não precisávamos mudar, eu tinha o meu espaço e gostava dele. Ele pediu um tempo, disse que não suportava tudo isso, e que talvez precisasse de alguém mais próximo, mais carinhoso. Não suporto que me coloquem defeitos, mesmo que não seja diretamente. Tento ser uma pessoa boa, mas quanto aos meus sentimentos, quero que eles serão priorizados pela pessoa que estiver comigo. Se ele não tem capacidade para fazer isso, que procure alguém que necessite de um apoio.
      - Você só pensa em si mesmo!
      - E você? Desde quando você me telefonou para dizer que queria me ver? Eu sempre tomei as atitudes. - Ele gritou.
      - Eu não sentia tanto a sua falta assim!
      - Então você não tem sentimentos, e é por isso que eu não quero ficar mais com você!
      Ele jogou na minha cara que eu era uma pessoa vazia, gelada, sozinha. Não o vi mais, permaneci só em minha solidão por mais de dois meses, e finalmente eu sentia o que ele chamava de saudades. É um grande aperto no coração, quando nós não sabemos se a outra pessoa está pensando em você; nós queremos vê-las, mas não sabemos se é possível. Não queria sentir, queria apenas esquecê-lo, mas isso era muito difícil para mim naquele momento. Saí. Levantei da cama e fui dar uma volta pelo Parque Laje, onde nós nos conhecemos. É um parque lindo, calmo e que me proporcionava a sensação de paz. Não foi a sensação que tive no momento, mas sim a saudade batendo constantemente no meu peito quando o vi sentado, sobre uma toalha vermelha com uma cesta de piquenine. Não acreditei, nós fazíamos piquenique naquele lugar, e agora ele estava com outra pessoa, fazendo o que eu mais gostava. Quando ele me viu dando meia volta, gritou meu nome sem pensar, não sei se talvez se arrependeu.
      - Fernanda?
      - Oi Bruno, eu não pensei que estaria aqui.
      - Eu ainda gosto de piqueniques.
      - Quem é a sortuda? - Não queria que a última palavra saísse, mas foi mais forte do que eu.
      - Ninguém. - Disse assustado. - Estou sozinho.
      - Que ideia é essa de fazer um piquenique sozinho? Donde é que já se viu? - Minha voz ficou um pouco mais trêmula.
      - Isso me lembra você.
      E com a saudade batendo na porta, apertando a campainha e gritando muito alto, eu falei:
      - Sinto saudades sua.
      - O quê? - Ela não acreditou, óbvio.
      - Sinto sua falta, da sua voz, do seu carinho, de tudo.
      - Fernanda, eu também, mas não posso mais aguentar aquela situação, de ficar dias longe de você, e só eu sentir alguma coisa.
      - Eu sinto algo agora, sinto-me diferente.
      - Então, por que nós não tentamos novamente?
      - E acabar com essa distância entre nós dois?
      - Por que não? Claro que você terá que ceder um pouco mais.
      - Você tem sanduíche de peito de peru?
      - Sim. - Respondeu em um tom de pergunta.
      - Então me dê, que eu sento do seu lado e a gente acaba com essa distância.
      - Para sempre?
      - Veremos senhor do piquenique.

Pauta para Bloínquês, 93ª edição musical. Tema:E acabar com essa distância entre nós dois?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Veja-te como te vejo

        Você se menospreza
        Por ela não te enxergar
        Mas ela apenas não sente
        O que eu tento te explicar

        A conquista se encontra
        Nos pequenos detalhes
        Mas ela não percebe
        Sua vivacidade

        Quando toca o violão
        E a letra sai dos lábios
        Enchem os meus ouvidos
        E o peito fica apertado

        Quando fica acordado
        Para falar comigo
        Perde horas de sono
        Só pra ouvir os meus risos

        Quando nota os meus olhos
        E eles estão vermelhos
        Deixa tudo de lado
        Para ouvir meus apelos

        E quando você escreve
        Chega a ser magnífico
        Passo os olhos nas linhas
        E me sinto no livro

        Gosta das mesmas músicas
        E dos mesmos refrões
        Matamos várias aulas
        Para ouvir Legião

        Então me diz agora
        Por que ela não te vê?
        Ela não vê os detalhes
        Que eu já vejo em você.

Pauta para Bloínquês, 58ª edição poesias. Tema: Detalhes.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

Phoenix, Oregon. 18 de setembro de 2011


                Daniel,

        Espera aí, deixa eu ver se eu entendi. Você chega na minha vida sem dar muitas explicações, cativa-me ao longo do tempo, diz que me ama e depois me deixa, assim, sem dizer nada? Sei que tenho todas as razões do mundo para te odiar, com toda a certeza, mas o que eu sinto mesmo é saudades, talvez com um pouco de raiva. Lembro-me do dia em que você chegou, foi tão sincero o seu sorriso, suas histórias sobre o mundo e as pessoas de cada canto. Você me conquistou com pouco, ganhou tudo o que eu podia dar, e foi embora. O que eu fiz de errado? O que este lugar te fez de mal? Você apenas gritou: "este não é o meu lugar", mas o seu lugar não foi sempre comigo? Por que você não pode apenas dizer que me ama e fincar os seus pés no chão? Por que você tem que sumir entre as montanhas, e nunca mais voltar? Por que você tem que me deixar? E agora, quando me perguntarem sobre você, direi: "ele foi embora", as pessoas me questionarão por que eu não fui com você, mas elas não se questionarão porque você foi. Você nunca pertenceu a um chão, você sempre pertenceu as estradas e as novidades. Eu fui uma novidade um dia, você pensa que não mais. Depois de correr tanto para alcançar o seu carro, sentei na estrada e começei a chorar, com muitos motivos. E sabe o pior deles? Você é o meu pai, e por isso essa dor sempre consumirá metade de mim.

                                                De sua filha,
                                                                Samanta.

Pauta para Suas palavras, 22ª edição imagem. Tema: Foto.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

O desejo da diversão

Os meninos não sonham, não! Eles vivem! Vivem dentro de um mundo totalmente louco, com super-heróis e mocinhas para salvar. Meninos quietos sonham em salvar uma donzela, sentir o perigo de um Faroeste; meninos divertidos querem um romance à moda antiga, cortejando a amada e sentindo como é bom ser amado de volta; meninos jogadores vivem o sonho de ser o herói que salva a cidade e fica com a mocinha, dizendo que o amor para eles é muito perigoso, pois os vilões podem querer matá-la. Os meninos vivem os seus sonhos para que a vida não pareça tão monótona. Quem nunca pegou um menino no mundo da lua?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Paradoxo da realidade

As meninas gostam de ouvir histórias que não acontecem com elas, histórias que não acontecem. As recatadas gostam de amores proibidos, as atiradas gostam de romances épicos, as jogadoras gostam de romances modernos e as sinceras gostam de romances policiais. Algumas gostam de elfos, outras de vampiros e algumas de guerreiros em uma armadura. Não parem de sonhar, porque se formos olhar para a nossa realidade, seremos pessoas sem alma. Continuem sonhando com coisas que não existem, só para amenizar a dor.

domingo, 11 de setembro de 2011

Céu vermelho

Deixa eu te levar pro vermelho
Manchar o seu corpo inteiro
Gritar no seu ouvido
Mostrar o que estava escondido

Para você conhecer o calor
O vermelho no seu interior
Para conhecer seu destino
Ir mais fundo do que o infinito

O vermelho do inferno
Misturado com o sincero
Apelo das almas perdidas
Sujas com a mesma tinta

Um convite obrigatório
Uma presença no purgatório
Um andar mais baixo
Diga adeus ao seu passado

E no mais vermelho
Com o seu tridente certeiro
Tudo está muito perto
Seja bem-vindo ao inferno.

P.S.: Que a dor de todas as famílias que foram destruídas dez anos atrás tenha se apaziguado com o tempo. Se não, que a dor os lembre que nós somos os vilões e os mocinhos, só cabe a nós mostrá-los no tempo certo.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O conto do lírio-tigre


        Estava visitando a Bienal no sábado quando no meio da confusão e empolgação acabei presa lá durante a noite. O que não imaginava é que aquela noite não seria apenas eu e os livros. Algo impensável e que talvez você nem acredite aconteceu. Sabia que passaria a noite em meio as obras de artes mais bonitas do mundo, e resolvi tirar proveito disso, lendo tudo o que poderia e guardando o máximo de lembranças para os anos que viriam. Estava em meus devaneios lendo Um crime adormecido, de Agatha Christie, quando ouvi passos nas estantes próximas ao final do corredor. Como uma boa menina curiosa, levantei-me do chão, onde me encontrava toda torta lendo, para seguir o estranho barulho. Dei um salto para o corredor transversal, imaginando assustar alguém, mas lá estava eu e os livros, sozinhos. Recolhi o livro que estava no chão, nada de muito importante, era fino e sua capa totalmente branca. "Um livro sem capa?" Pensei comigo mesma, quando o abri não vi palavras impressas, o livro estava em branco. "É um caderno." Imaginei. Enrolei-o, de tão fino que era, e pus no bolso de trás da minha calça, voltando a Christie.
        Li uma parte em voz alta para a minha própria distração: "No seu interior via-se o papel de parede original. O quarto, antigamente, era forrado com um papel de parede bem alegre, todo de flores, ramagens da papoulas vermelhas e centáureas azuis...". Pensei no quão bonito seria, reparando que as paredes estavam diferentes. As estantes estavam todas nos mesmos lugares, mas as paredes estavam cobertas de flores vermelhas e azuis. Devo ter prendido a respiração por alguns segundos, sendo que aqueles desenhos nunca estiveram lá, mas eram tão reais que ao toque eu podia sentir o papel de parede velho. Pensei em como eu podia ter feito aquilo, busquei outro livro e li: "No outono, após um tremendo e exaustivo esforço - pois a colheita se fizera ao mesmo tempo -, o moinho de vento estava pronto". Levantei a cabeça esperando algo acontecer, então, como em uma mágica bem feita, as paredes se juntaram e formaram o moinho de A revolução dos bichos, que era cercado por papoulas vermelhas e centáureas azuis. A grama invadia as estantes, pondo um horizonte infinto no que antes era uma sala florida.
        Eu estava em meio a minha própria criação, a qual eu não fazia ideia que era possível de realizar. Estava empolgada e não pararia por aí. Tirei os sapatos e corri pela grama, percorrendo as estantes em busca de outros livros. No topo da estante estava As crônicas de Nárnia; retirei o livro e abri no Príncipe Cáspian: "Então, numa vibração de memória, voltou a ver, depois de tantos anos, as estrelas cintilantes de Nárnia". No decorrer de minha leitura, ficava cada vez mais difícil de ler. "O ar estava fresco, e no ar pairavam aromas deliciosos. Ali, pertinho, um rouxinol começou a cantar, parou, recomeçou. Um pouco adiante estava mais claro. O luar e as sombras penetravam-se de tal modo que se tornava difícil dizer onde estava uma coisa ou a outra. Nesse mesmo instante, o rouxinol, satisfeito com o ambiente, rompeu em pleno canto". Eu olhei para cima e me encantei. Estrelas e mais estrelas a brilhar, acompanhadas de uma lua cheia, mas que não as ofuscava. Havia árvores envolvendo todo o círculo, com o canto de um rouxinol ecoando de todos os galhos. O moinho estava no centro, envolto pelas flores e estantes, mostrando toda a sua beleza com o luar pairando sobre ele. Era tão lindo que eu escorreguei devagar sobre a estante, sentando na grama com os olhos presos nas constelações.
        "Já é hora de acrescentar personagens!", pensei ligeiramente. "Desta vez encontrou um grande canteiro de flores, todo cercado de margaridas, com um salgueiro no meio. - Ó Lírio-tigre! - disse ela, dirigindo-se a uma flor que ondulava graciosamente ao vento. - Eu queria que você pudesse falar!". O salgueiro brotou do chão e cresceu, tornando-se uma árvore com ramos abundantes, estabeleceu-se atrás do moinho de vento. As flores surgiam em meio a grama, e o lírio-tigre apareceu bem ao lado do salgueiro.
        - Olá lírio-tigre!
        - Olá pequena. - Eu arregalei os olhos, ele podia falar! - Antes de alarmar e acordar todo o jardim, acenda as luzes, está muito escuro aqui, não enxergo suas pétalas!
        - Eu não tenho pétalas.
        - Não seja ingênua, todos tem pétalas.
        - "Brilhava o sol sobre o mar, brilhava o mais que podia." - Li mais um trecho de Alice no país dos espelhos. A grama foi sendo tomada por água cristalina, parte dela, e a rosa estava no limite. O sol tomou conta do céu e o salgueiro fez uma bela sombra sobre mim e o lírio-tigre.
        - Se não bastasse não ter pétalas, ainda me joga ao mar!
        - Calada Rosa, você mesma vivia reclamando de como o calor era injusto contigo. Aproveite a água doce enquanto é tempo. - Virando-se para mim, continuou. - Obrigada pela sombra, este salgueiro não é lá muito generoso. - Cochichou a última parte, com medo do salgueiro, que era uma árvore majestosa, quase do tamanho do moinho de vento.
        - O que está acontecendo?
        - Quanto a que?
        - Tudo! As mudanças!
        - O aquecimento global?
        - Por que vocês falam e tudo isso existe?
        - Porque você quis. Agora, abra aquele livro ali, este mesmo. - Fez um movimento na direção do livro. - Na página setenta e dois, sexto parágrafo. Leia.
        - "Realmente não se podia imaginar um adorno mais gracioso. O vestido era de escumilha rubescente, formando regaços onde brilhavam aljôfares de cristal; nos cabelos castanhos trazia uma grinalda de pequenos botões de rosa, borrifados de gotas de orvalho".
        - Lindo, realmente lindo! Agora, procure em volta! Traga-a a mim!
        - Quem?
        - Amélia! A moça no vestido de seda vermelho do livro A pata da gazela!
        Com um estridente grito, vi a tal Amélia sair correndo detrás do moinho de vento, segurando os regaços do vestido. Os sapatos ficavam a mostra, deixando ver dois pés bem pequenos, pareciam de boneca. Ela chegou até mim arfando.
        - Onde estou?
        - No meu jardim, querida.
        - Quem disse isso?
        - O lírio-tigre apaixonado aqui. - Apontei para ele.
        - Olá doçura, onde volto para o meu baile?
        - Tenho que te informar que não sairá daqui tão cedo, estamos todos presos aqui até isso acabar.
        - O que vai acabar?
        - Eu não sei, faz pouco tempo que estou conversando com a menina sem pétalas. E por falar nisso, suas pétalas vermelhas são muito bonitas!
        - Agradecida. - Fez um sinal de obrigado e sentou na grama, ao meu lado. - Bem, ao menos expliquem-me o que está ocorrendo.
        - Eu posso trazer personagens e lugares dos livros, foi assim que construí tudo isso.
        - Que maravilha. Mas é possível trazer o meu Leopoldo?
        - Não seja por isso. "Ao mesmo tempo que o nosso leão, entrava Leopoldo de Castro na modesta habitação que então ocupava na glória."
        Leopoldo saiu de dentro do moinho de vento, que agora funcionava. Ele sorriu ao ver Amélia, que correu para os seus braços. Eles saíram e se sentaram perto do mar. Eu e o lírio-tigre podíamos ouvir a conversa deles perto do mar.
        - Você está muito bonita.
        - Obrigada. - Ela corou.
        - Por que estamos aqui?
        - É uma longa história.
        Eu e o lírio-tigre estávamos felizes. Amélia e Leopoldo pareciam contentes, e o sorriso dele ia aumentando a cada frase da grande história que ela contava. Mas o lírio-tigre me lembrou de algo.
        - Como isso tudo vai acabar?
        - Eu não sei, acho que será um apagão e tudo voltará ao normal.
        - Eu gostaria de ir contigo.
        - Eu também, plantar-te-ia em um chão bem duro, para que não dormisse e continuasse a falar comigo.
        - Esta é a minha ideia também. Faz um último favor para mim? - Fiz um movimento positivo com a cabeça. - Pega aquele caderno ali.
        Fiz o que o lírio-tigre me pediu e tive uma grande surpresa, era o caderno em branco que eu encontrei no início da minha louca viagem.
        - Abra e leia. - Eu abri o livro, cheio de gravuras e letras grandes, tudo em preto e branco. - Na página doze, terceiro parágrafo.
        - "Fernanda conheceu o lírio-tigre, muito bonito e sincero. Era o tipo de flor para se pedir informações, mas flores não falam! Oras, o lírio-tigre falava, e muito bem por sinal. Era um conquistador nato com as palavras, e todos se calavam para ouvi-lo. Sua única perturbação era o salgueiro que se recusava a fazer sombra e a rosa mal-humorada, que estava mais para apaixonada por ele". Essa história é sobre nós!
        - Claro, mesmo a rosa não estando apaixonada por mim, tudo isso é verdade. Agora vá à última página e leia. - Eu abri na última página, em branco. O lírio-tigre começou a falar e as palavras surgiam no caderno.
        - "Então, Fernanda abriu o caderno na última página e leu o que o lírio-tigre havia 'escrito'. Tudo parecia muito perfeito, mas haveria de acabar algum dia, e porque não fazer disso algo poético? Fernanda retirou o lírio-tigre da terra dura, com muito esforço, e o guardou na mochila que estava jogada em uma das estantes, deu uma última olhada em Amélia e Leopoldo e fechou o caderno". E agora? - Perguntei ao lírio-tigre dentro da minha mochila.
        - Agora você fecha os olhos bem forte e sonha. - Eu fechei os olhos.
        - Sonhar com o que?
        - Com o que você conseguir criar.
        Quando abri meus olhos estava encostada em uma das estantes, na Bienal comum. Não havia rouxinol, salgueiro, moinho, Amélia nem Leopoldo. Era só eu e os livros. Mas eu vi o caderno jogado no chão, que agora não estava mais em branco. Na sua capa se lia: "O conto do lírio-tigre, criado por Fernanda". Que saudades eu tinha daquele lírio-tigre! Quando fui guardar o caderno na mochila, a surpresa que eu tive; encontrei-o lá dentro, como se tivesse sido posto há alguns segundos.
        - Vamos para casa, lírio-tigre?
        - Com todo prazer, criadora.
        Eu sorri, e sabia que ele estava sorrindo. Plantei-o em uma terra bem dura, terras fofas são ruins, são como camas que te convidam a dormir. Não perderei nenhum conto deste conquistador nato das palavras.

Pauta para Blorkutando, 154ª edição. Tema: Trecho em itálico, Bienal.

domingo, 28 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Retroceder

        Prometi não amar, não trebelhar com sentimentos cortantes, manter-me neutra em todas as estações. Então, você chegou falando de cubos e trens com seus olhos pretos, e me fez quebrar o que eu tinha de mais firme, minha palavra.

Pauta para Créativité, 20ª edição de-sa-fi-o. Tema: Mini conto livre.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ciaran


Lembra quando nos conhecemos
Apresentados no trem?
Desconhecidos conhecendo
Alguém que conhecia alguém

E eu me apaixonei por você
Pelo seu sorriso escondido
Que raramente aparece
Mas quando vem, é magnífico

E os seus cabelos pretos
Que nunca ficam no lugar
E os seus olhos negros
Que nunca param de encarar

Você é um total mistério
Um cubo mágico a descobrir
Instigante e imprevisível
Nunca sei o que está por vir

E como da água do vinho
Como uma identidade dupla
Você faz uma coisa
E amanhã, simplesmente muda

Mas, lembra das nossas conversas?
Olho no olho, tal que matava
Tudo misturado
Ansiedade, pureza e raiva

E mesmo que seja só meu amigo
Ficarei feliz por estar com você
Pois eu não te amo só pelo físico
Mas pelo seu interior também.

--

P.S.: Desculpem a demora para postar algo. A foto fui eu quem tirou, em Buenos Aires. Não sei se este poema ficou muito bom. Ciaran significa negro como a noite.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Revolta sobre o amor


        - Vou falar que você estava errada, que foi lá e arriscou tudo o que tinha de mais importante, destruiu tudo por puro egoísmo. Você tentou e não conseguiu, e agora, carregará este peso por toda a sua vida, de mais uma amizade destruída. A culpa é toda sua, e não há nada que possa mudar isso.
        - Vou falar que você estava errada, que não fez nada e perdeu a oportunidade, que agora, tem que ouvir o quanto ele está feliz com outra. Você nem se quer tentou, não saiu do lugar para demonstrar o que sentia, você é uma fraca, covarde. A culpa é toda sua, e não há nada que possa mudar isso.
        Duas situações diferentes com a mesma pessoa. E agora me pergunto: arrisco tudo ou permaneço intacta onde estou? Dizem para arriscar, depois dizem que era melhor ter pensado antes. Dizem para ficar, depois dizem que você deixou a oportunidade escapar. Estou cansada desde falatório, dizendo o que eu devo fazer e deixar de fazer. Eu quero sentir! Quero ser abraçada, beijada, elogiada, respeitada, cobiçada e amada. Alguém, por favor, explica-me o porquê deste turbilhão de emoções? Sou mais uma adolescente normal procurando alguém que se sinta deste jeito, e mesmo assim não encontro uma pessoa, neste mundo tão grande.
        Estou cansada de ver aquele casal feliz, os beijos espalhados pelos corredores e os abraços sinceros, de desejar felicidade interna para os outros; eu quero que eles a desejem para mim, pela eternidade. Quero alguém que segure a minha mão e diga o quanto sou importante, que me olhe nos olhos e diga que sou linda, que me abrace sinceramente e diga que nunca me soltará.
        Eu vivo buscando insanamente o amor, e parece que ele foge de mim. Quando me calo, ele passa pelos meus olhos e cai no colo de outro alguém, e quando me empolgo a contar o que eu sinto, ele escorre pelas minhas mãos. Eu quero uma solução, que tudo seja mais simples, que as pessoas possam falar de sentimentos sem se encobrirem. Quantas vezes você já disse algo verdadeiro e escondeu, dizendo que era brincadeira?
        Quero e necessito que todas as brincadeiras sejam verdade. Quero um amor só meu, e que acima de tudo, seja sincero.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Amor cósmico


        - Uma estrela cadente vinda do seu coração caiu, e destruiu tudo o que havia. Eu não posso mais.
        Ela saiu do quarto de hospital, debulhando-se em lágrimas, não continha os soluços. O seu garoto estava em coma, aquele que sempre esteve ao seu lado, que a ajudou nas horas difíceis, estava precisando da sua ajuda, mas ela não tinha forças. Ela simplesmente não conseguia ver o seu próprio namorado naquele estado, em coma.
        Foi um acidente terrível, estava chovendo, e ele com o seu guarda-chuva franzino, que se curvava com vento. O sinal havia fechado, já estava no meio da faixa de pedestres quando o carro o atingiu. Ele sobreviveu, mas perdeu muito sangue e bateu a cabeça, ficando em coma.
        Ana se encolhia cada vez mais em sua cama, tentava esquecer o ocorrido, mas as imagens do hospital rondavam sua mente. Ela gritou, queria que parasse, que as imagens sumisse, e a dor também, mas isso só a aumentava. Ela fechou os olhos e as lágrimas escorreram sem fim.
        Mantinha-se longe dos amigos, da família e principalmente de Rafael, ela tinha em sua cabeça que precisava esquecê-lo, que assim a dor passaria, e os dias seriam menos cruciantes. Ela estava no escuro, o dia e a noite se completaram e explodiram, deixando um vazio. Um total crepúsculo, ela não sentia o melhor nem o pior, a cada dia que se passava a dor a anestesiava contra as ações da vida. O escuro tomou conta da sua visão, a ablepsia congelava sua mente e o tempo, em realidades opostas.
        Estava em profunda depressão. O abismo era tão extenso que rasgos de luz surgiam em sua mente. No dia em que uma grande tempestade caiu, ela o sentiu.
        - Ana? – Ela olhava, estatelada. – Sou eu, o Rafael.
        - Você voltou?
        - Quase, eu estou no limbo, entre a vida e a morte. Estou na escuridão, esperando uma luz.
        - Seu coração bate?
        - Raramente.
        Seu espectro sumiu, a visão deixou Ana perturbada, foi a primeira vez que ela sentira Rafael tão perto novamente, nesses dois meses de coma. Ela o chamou, gritou com todo o ar de seus pulmões, sentia tanta falta dele. As noites eram mal dormidas, ficava a procura-lo pelo quarto, esperando uma aparição.
        Ela sentiu um calafrio, um uma noite sem lua e estrelas no céu. Deparou-se com Rafael.
        - Você...
        - Estou morrendo, Ana. A luz da estrela está se apagando, e não há nada que eu possa fazer. Você precisa me salvar.
        - Como? – Ela já chorava.
        - Procure-me na escuridão.
        Ana fechou os olhos, lembrou-se de todos os momentos bons, e a imagem do hospital veio a sua cabeça. Ela se fechou, deixou ser banhada pela luz da noite, estranha e sem razão pela falta da lua. Ela viveu todo esse tempo na sombra do coração de Rafael, mas nunca havia percebido o quanto a dor a fazia se aproximar dele.
        A porta do quarto de hospital se abriu, e ali jazia ele, de seu semblante pálido sobressaía a escuridão, ela precisava encontrá-lo. Como estavam sozinhos, ela pôs seu ouvido direito sobre o peito de Rafael, escutava as batidas de seu coração, ele estava vivo e perdido em algum lugar. Ela segurou a sua mão e fechou os olhos, adormecendo na poltrona ao lado na cama. Ela permaneceu na sua escuridão, juto a ele.
        Ela sentiu a pressão e acordou, teve uma surpresa ao ver que Rafael a segurava com força. Ela gritou os enfermeiros.
        - Ele voltou! – Gritava a enfermeira, retirando os aparelhos respiratórios.
        - Ele achou o caminho de volta. – Ana segurava sua mão com toda a força.
        Ele abriu os olhos lentamente, deparando-se com os olhos castanhos dela. Deu um sorriso doloroso, mas sincero.
        - Você achou o caminho.
        - Você... – Ele tentou falar. -... E suas estrelas negras.
        Ela sorriu, ele estava bem e isso era a única coisa que importava. As estrelas e a lua sempre estarão no céu, às vezes escondidas pela escuridão. O nosso dever é fazê-las achar o caminho de casa, pelo mapa mais difícil, ou pela estrela cadente mais brilhosa.

Pauta para Suas Palavras, 9ª edição sentidos. Tema: Desequilíbrio.
P.S.: Baseado nesta música.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Amor cortês


        Eu quero um amor cortês
        Um amor que consuma a minha alma
        Que seja um paradoxo
        Para que todos batam palmas

        Proibido e elevado
        Humano e sublime
        Passional e disciplinado
        Um benigno e um crime

        Quero alguém que me conquiste aos poucos
        Que me abrace a cada dia
        Que levante o meu humor
        E conceda algumas alegrias

        Que me admire todo dia
        Que me queira a cada instante
        Que siga a teoria
        De um amor constante

        Que de mim se aproxime
        E aceite o desafio
        De subir tão alta montanha
        Tão íngreme

        E quando estiver no topo
        Poderá vir falar comigo
        Enamorar um pouco
        E nos despedimos

        E assim por diante
        Até que não aguente
        E mande uma carta
        Com o seu nome no remetente

        Não segurarei minha alegria
        As lágrimas virão a escorrer
        Serei sua dama aflita
        Até termina-la de ler

        “Minha querida Donzela
        Todos os dias a vejo
        Tento manter a cautela
        Mas muito a desejo

        Gostaria de lhe contar
        Sobre o meu amor imenso
        Estou apaixonado
        E agora eu peço

        Minha querida flor
        Responda aos meus apelos
        Encontre-me às sete horas
        No arvoredo”

        E ali me encontro
        Esperando o meu amor
        Que as metas cumpriu
        Que me cortejou

        E sem mais delongas
        Vamos conversar
        Apenas de mãos dadas
        Iremos andar

        Estou quase acabando
        Mas do beijo tenho que contar
        No final da noite
        Eu não ia lhe desapontar.

P.S: Dia dos namorados chegando... Felicidades aos casais, e que eu arranje um namorado até lá. =D

Pauta para Blorkutando, 141ª edição. Tema: Livre.
Pauta para Suas palavras, 8ª edição imagem. Tema: foto.
Pauta para Atrás do pensamento, 2ª edição de poesia. Tema:namorado Livre

domingo, 22 de maio de 2011

Obscuridade dos sonhos


          Aviso logo de cara sobre os sonhos,
          Nem ouse se agarrar nesta abertura,
          Divinamente guardada pelos demônios,
          Saboreando a ausência de censura.

          Eles povoarão sua límpida mente,
          Simularão ludíbrios em dimensões,
          Retiradas da sua alma inocente,
          Sem se preocuparem com as restrições.

          Não se mova, não imagine, não respire,
          Eles reúnem todas as suas fraquezas,
          Formam pesadelos e trazem a tristeza,
          Não se importando com a manhã seguinte.

          Mas tudo isso não é nada além de um sonho,
          Quando o sol nascer, serão apenas lembranças,
          Dos sentimentos criados pela esperança,
          De ser algo suficientemente cômico.


P.S:Quadra em versos alexandrinos. Se você não sabe o que é, clique aqui, e depois aqui.
Pauta para Bloínquês, 41ª edição poemas. Tema: Sonhos.

domingo, 15 de maio de 2011

Respire


                              Há algo melhor do que respirar?

          Quando estamos aflitos, com medo, sem esperança, cansados e quase vencidos, nós respiramos. E quando o ar preenche nossos pulmões, conseguimos pensar com maior clareza, e mesmo que os problemas não se resolvam, achamos alguns caminhos errados, melhor do que o próprio desespero impensado.
          Corremos muito para conquistar nossos sonhos, e na metade do caminho estamos arfando, respirando pela boca. E como alguém que quer tentar meditar, sem nunca praticar, fecha a boca, estufa o peito e solta o ar dos pulmões.
          Deitar e fechar os olhos, não pensar em nada e ouvir apenas a sua respiração, enquanto o seu diafragma cresce e diminui. A mente está limpa, e nunca nos sentimos tão bem, e nos lugares mais calmos estamos, agora, pensando. Uma praia vazia ao entardecer, com o barulho das ondas; um parque com risadas sinceras de crianças que acabaram de se conhecer.
          É estranho como as crianças confiam uma nas outras, é difícil dizer quantas vezes nós conquistamos as pessoas em um parque, sala de jogos ou um passeio ao Jardim Botânico. É assim, a ingenuidade vai se extinguindo com o passar dos anos, enquanto os sapatos param de servir e os desenhos animados perdem a graça; mas às vezes nós os assistimos apenas para matar a saudade.
          Nós respiramos mais uma vez e percebemos como é difícil crescer. E alguns de nós pensa, e age de forma tão diferente que não parece ser a criança que se sujava na lama do quintal. Crescer não é mudar gostos, não é se tornar alguém igual da televisão, imitar o seu ídolo; crescer é acrescentar. Respirar a cada escolha e não as mudar, mas experimentar algo novo, aprender novas palavras e onde fica Narni. Ao longo do caminho perdemos coisas e pessoas importantes, mas nunca deixe isso abalar você, fazer-te esquecer da sua verdadeira essência ou não acrescentar aprendizados.

sábado, 7 de maio de 2011

Por que escrevemos textos sobre solidão?


          Estava pensando com os meus botões o que escrever, pois já faz um tempo que não há nada de novo por aqui. Veio-me a ideia da solidão, um assunto que eu escrevo bem, não me pergunte o porquê. Mas eu me perguntei: “por que escrevemos textos sobre a solidão?”. Isso seria um bom texto, e estou aqui contando o início do meu texto.
          Todos nós já tivemos este sentimento, que não é ruim. Eu gosto da solidão em alguns momentos, mas como dizem, tudo em excesso faz mal. A maioria dos textos que escrevemos é sobre a má solidão, a depressão e como isso afeta no amor e na nossa autoestima. Nós não vemos, mas quem está lendo do outro lado, fica meio afetado com esses textos, como já me disseram.
          Mas nós escrevemos sobre solidão para mostrar aos outros como eles são felizes, para fazê-los sentirem melhor mesmo com o mundo de cabeça pra baixo. Eles apertam nosso coração, e ficamos torcendo pelo protagonista vencer a antagonista, a tal solidão. Torça! Cada vez com mais emoção, pois estamos “dizendo” que ele consegue vencer tudo aquilo, e no final ser feliz. Mas como podemos torcer por algo que não temos? Sim, aí está o grande mistério, você torce para que o personagem alcance a sua felicidade.
          Os textos sobre solidão nos mostram o quão bom podemos ser também. As pessoas más ficam felizes de ver o coitadinho sofrendo, infeliz, jogado ao relento. As de bom coração, como você que está lendo este texto agora, esperam que o personagem encontre o amor e o potinho de ouro no final do arco-íris.
          Lembra-se quando encontrou o potinho de ouro pela primeira vez? E quando escorregou nas sete cores e percebeu que estava irradiando luz? Os textos nos fazem lembrar tudo isso, dos momentos bons que tivemos e alguns ruins, mas que se não ocorressem, a nossa vida não tomaria aquele rumo.
          Enfim, a verdadeira razão de existirem os textos de solidão é que nós, escritores, adoramos como eles nos fazem sentir melhores, como um banho de cachoeira, que leva todas as impurezas. Tudo de solitário é posto ali, e quem lê vê isso, a pureza que há por trás. E é nessa pureza que nos sentimos felizes, que há esperança no meio do caminho, e que mesmo não parecendo, todos temos um final feliz.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mistério do meio-fio



          Eu nunca soube porque o final da calçada é meio-fio. Como ele pode ser ‘meio’? Eu ficava pensando no tamanho do fio que eles usaram para esta denominação, mas como tinha coisas mais importantes para pensar, largava de mão.
          Pois é, a vida me pegou de surpresa, quando eu menos esperava meu namorado terminou comigo, fiquei na recuperação final na escola e não tinha dinheiro nem pra gasolina da minha caminhonete. Aqueles dias que nunca terminam bem estavam acontecendo, e nada como dias em que você nem se suporta para refletir sobre a sua vida.
          Eu cansei de esperar que alguém viesse me salvar, que eu descobrisse algum talento da noite para o dia, e que o sol se ponha no leste. Descobri, depois de tantos anos, que quem toma o rumo da minha vida sou eu, e que não devo esperar o destino decidir por mim, mesmo que eu acredite nele, tenho que o direcionar.
          Não direi a moral do pequeno texto, pois não tem. Eu ainda estou em movimento retardado quanto a minha vida, mas ela está indo melhor do que antes. Aqueles dias de solidão me fizeram muito bem. E para terminar o texto eu descobri o mistério do meio-fio: o nosso corpo é o fio inteiro, a nossa vida; para todo fim de calçada existe um meio-fio delimitando, assim como nós. Não somos o limite, mas apenas metade dele, a outra metade é preenchida por várias pessoas, que ás vezes plantam flores ou pisam na grama.

Pauta para Créativité, 11ª edição visual. Tema: Imagem.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pergaminho I – O início

                            Pergaminho I – O início.

          Este pergaminho conta uma parte da história de Íctia, uma terra muito distante de tudo o que se conhecia, encontrava-se no meio do mar do norte, e nenhum navio nunca conseguiu alcançá-la.
          No início dos tempos a terra era governada por seis dragões, cada um possuía o seu respectivo dever, que juntos, mantinham a harmonia do lugar. Írias era a rainha, controlava as estações; Ícaro era o rei, controlava os ventos; Dandara possuía poder sobre as águas, Scar mexia com o fogo; Azule era responsável pela terra e tudo que provinha dela; e Vívara pelos animais que habitavam a terra.
          Havia um segredo que eles guardavam, e nunca fora dito à população dragoniana. Eles se transformavam em humanos ao anoitecer, mas como tinham medo da população alcançar a terra humana, faziam eles dormirem olhando para lua. Utilizavam o motivo que a meditação à noite sem interrupção era importante, e a lua os fortalecia. Os seis dragões se transformavam em humanos e dançavam a noite toda, enquanto os outros estavam enfeitiçados pelo luar.
          Írias e Ícaro eram brancos e possuíam cabelos e olhos negros; Dandara tinha olhos azuis como o mar e cabelo castanho claro; Scar era ruivo dos olhos cinzas; Azule era negra com olhos e cabelos escuros, e Vívara era morena com olhos e cabelo cor de mel. Em forma humana, eles eram muito mais bonitos e alegres, mas também egoístas e ignorantes, defeitos que não havia descoberto ainda. Todos altos e com uma grande presença, até que todo a pretensão veio a derrubá-los.
          Dandara formava as nuvens para a chuva, mas Ícaro não as espalhava pelo céu. Azule começou a não cuidar das terras, e a comida estava escassa pela falta de chuvas, logo, mais animais estavam sendo mortos e Vívara não conseguia mais administrar as espécies. Írias estava trazendo o inverno, que seria o mais rigoroso de todos, necessitava da ajuda de Scar para manter o sol brilhando mais forte ao nascer do dia. Mas Scar estava muito ocupado como ferreiro para ouvir as ordens.
          Íctia estava em desequilíbrio, sofrendo pela falta de comida, água e calor. Os dragões começaram a se perguntar o porque disso tudo, sem saber sobre a transformação. Foi em uma das noites de lua cheia que osseis dragões se transformaram e brigaram. Culpavam um ao outro pelo o que estava acontecendo. Ao nascer do dia, não encontraram Írias em seu aposento, e o rei imaginou que ela tivesse voado para a terra humana.
          Íctia ficou por três anos em um inverno rigoroso, quase toda a população e os animais foram extintos. Mas os cinco dragões continuaram a viver e se transformar todas as noites. Quando a lua não apareceu nos céus, Írias voltou com cicatrizes por todo o corpo, o cabelo, antes longo até a cintura, estava acima dos ombros, e seus olhos carregavam profundas olheiras. Ela levantou as mãos e bateu bem no alto da cabeça, fazendo com que o luar penetrasse na janela e iluminasse todo o castelo, onde se encontravam. Scar foi até a janela e viu que as nuvens haviam ido embora, e que o tempo estava melhor, que poderia receber forças do sol novamente após três anos de angustia.
          Todos se perguntaram o que aconteceu com a rainha, e ela os contou que, quando chegou ao continente, os humanos a atacaram. Foi tão rápido que não houve reação, estava muito cansada por ter voado catorze dias, parando a noite em pedras para dormir com o seu corpo humano. Ela disse que os humanos a chamaram de bruxa, que estava possuída e outras coisas que não se lembrava. Prenderam-na em uma cela e chamaram um padre, que a benzeu e disse que os seus olhos eram do demônio. Ela nada fez, ficou parada, quieta em seu canto. Não a libertaram durante três anos, pois desaparecia de manhã, mas estava ali, invisível na forma de dragão para os humanos. Acreditavam seriamente que era uma bruxa que voltava todas os noites para assombrar o continente, já que as estações estavam mudando de mês em mês. Ela estava fraca e doente, não possuía mais controle sobre os próprios dons, e deixava-se levar pela fraqueza a cada noite.
          Suas cicatrizes mostravam as tentativas de sair da cela, já que ficava se debatendo a noite toda. Contou que cortou o cabelo para mostrar que não era uma bruxa, já que acreditavam que o cabelo negro retirava poderes da lua para matar os humanos. Eles a tiraram da cela e a jogaram no mar, amarrada em um saco. Ela permaneceu ali por quatro dias, até bater em uma rocha e recuperar a consciência, rasgando o saco e voando de volta a sua casa.se juntaram, uniram forças e reconstituíram Írias, alongando o seu cabelo e alisando sua pela branca. Ela voltara a sorrir e o equilíbrio estava em ordem. Todas as noites se transformavam em humanos novamente, mas ficavam em silêncio, contemplando um ao outro, contando piadas ou passeando pelos rochedos de Íctia.
          As chuvas voltaram a cair, os animais se multiplicaram, o sol brilhou nos céus e as estações estavam em sintonia. Tudo estava em seu lugar, e os dragões estavam em harmonia entre si e a terra. Prometeram nunca mais tentar ou ir ao continente, pois era suicídio. E eles continuaram vivendo suas vidas, transformando-se, escondendo o segredo da população e cuidando de todos para uma vida duradoura.
                                                            Ferdinando – O dragão escritor

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Clique na imagem acima para ver o texto em um pergaminho. Eu acho mais legal assim!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Viva eu!

          Há algum tempo estava tendo uma promoção lá no Profano Feminino. Como boa escritora e curiosa, dei uma olhadinha e participei. Eu deveria escolher um dos dois livros e responder à uma pergunta. Eu escolhi Amor e amizade da Clarice Lispector e respondi à pergunta: qual a linha que separa o amor da amizade?

          "Não há como dizer onde começa e termina, mas o amor e a amizade estão ligados, e mesmo que haja uma linha tênue separando, nunca poderíamos denominá-la. Eu digo que as amizades são o começo de qualquer coisa, que para confiarmos temos que ser amigos. O amor não é muito diferente, mas quando há amor, não raciocinamos direito, ficamos corados e sempre muito ansiosos. De uma amizade pode nascer um amor e vice-versa; mas uma coisa que eu tenho certeza é que nunca poderíamos chamar de amigo uma pessoa que não amássemos."

          Pois bem, eu fiquei entre as dez, depois entre as três e finalmentem fui escolhida como a GANHADORA! EU GANHEI O LIVRO! E aqui estão duas fotos (que o blog me pediu) para comprovar como o livro é fofo! Eu ainda não li pois estou em semana de provas lá no Cefet, mas prometo degustar de cada palavrinha!


  


  

quarta-feira, 16 de março de 2011

As luzes das estrelas

     O pai foi desejar boa noite ao filho:
          - Arthur, eu queria falar uma coisa muito importante com você.
          - O que foi papai?
          - Eu quero dizer pra você não ter medo do escuro.
          - Mas papai, o escuro é mau.
          - Filho, o escuro não é mau. Você sabia que as fotos antigamente para serem reveladas eram no escuro? E que só podemos ver as estrelas e a lua no escuro? E que a luz, para ser apreciada, necessita da escuridão?
          - É mesmo, papai?
          - Sim, e não é preciso que você durma com o seu abajur ligado, você nem consegue ver a lâmpada!
          - Mas eu gosto dele.
          - Filho, não tenha medo de apagar o abajur, pois muitas estrelas no céu se apagaram, e nem por isso elas deixaram de brilhar para nós.
          - Como assim?
          - Elas ficam tão longes, que mesmo que não existam mais, as suas luzes nos acompanham por um bom espaço de tempo.
          - Quer dizer que o meu abajur vai me acompanhar?
          - Quando a luz se apagar, você ainda se lembrará dele ligado, e olhará para o teto e verá coisas que não via com a luz acesa, você conhecerá um novo mundo.
          - Tudo bem papai, desligue o abajur.
          - Não, você tem que fazer isso por si só. Ver as estrelas de noite é só para quem tem coragem de olhar para cima.
          O garotinho sorriu.
          - Boa noite Arthur.
          - Boa noite papai.
          O pai deu um beijo em seu filho e a luz foi desligada.


Pauta para Créativité, 10ª edição dialogue. Tema:última conversa do dia.

terça-feira, 8 de março de 2011

Jornal cafeinado


          Eu estava um café, distraído com o meu jornal, tentando arrumar as palavras para a minha nova coluna. Neste momento ouvi gritos e acusações, mas estava muito concentrado para prestar atenção. Baixei o jornal quando vi uma mancha de café escorrendo sobre a coluna de Júlio Alves, minha feição não era uma das melhores. Mirei na mulher com a maquiagem borrada, muito bem vestida, estava com um vestido vermelho até os joelhos, com um decote que chamou a minha atenção. O homem estava de smoking e muito sério, não olhava diretamente para a mulher, e ela se mexia muito, principalmente com as mãos, explicando algum acaso.
          O homem fingia-se distraído, mas ouvia o que ela dizia. Podia-se perceber pelo jeito com que as mãos suadas se secavam na calça, os dedos se estalavam e a cabeça mudava de posição conforme o tom da voz da mulher. Só comecei a prestar atenção na briga quando pingou algumas gotas de café na minha calça e eu amassei o jornal, rascunhando algumas palavras na folha de papel. Eles estavam brigando porque o homem havia convidado a irmã dela para dançar, não percebendo a diferença.
          - Vocês são gêmeas! – Gritava ele.
          - Você está casado comigo há três anos e não sabe a diferença?
          Além de convidar, ele havia a beijado e dito palavras carinhosas, sem se dar conta de que não era a sua esposa. Ela chorava muito, e dizia que queria o divórcio, e ele, desesperado, afirmava ter sido uma pequena confusão por ter bebido a mais. Eu, que nada conhecia do amor, que dedicava cada segundo do meu dia ao trabalho de escreve colunas para jornais, levantei-me daquela cadeira e pus minha opinião em pauta.
          - Não vêem o que está na frente de vocês? Estão casados há três e por uma briga boba vão se separar? A sua irmã devia ter vergonha do que fez, pois pelo o que ouvi, foi ela que o convidou para dançar. E se ele veio atrás de você, é porque ele te ama. Eu não sou um sábio, mas a verdade é que eu já vi muitas histórias de amor nos jornais, algumas trágicas e outras felizes. Não deixem que esse jornal acabe molhado de café e amassado na lixeira.
          E os olhos antes fuziladores, acalmaram-se e se transformaram em um abraço eufórico e sincero em mim. Eles se beijaram e o homem secou as lágrimas manchadas do rosto dela. Eu ganhei uma história para minha coluna, e eles ganharam a vida de volta.

Pauta para Bloínquês, 57º edição conto/história. Tema: Frase em negrito.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Não me deixe


          Já não aguento mais, estou sufocado pela saudade que tu deixastes em mim, e não há outra saída a não esquecer. Lembro-me todos os dias de quando te conheci, ficava a tua espera, esperançoso para a porta do quarto se abrir assim que saías. Não sabes como és importante para mim, pois eu, um ser tão pequeno, não pode dizer como me sinto em relação à nossa amizade.
          Pode não saber, mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim única no mundo. E eu serei para ti único no mundo. Felizmente, tu me cativaste e estou muito feliz de poder dizer que sou teu amigo. Agora, abres esta porta e me deixa entrar. Cresces comigo, não me tires da sua vida.
          Sei que crescestes e que já não se importa com coisas banais de criança, mas não me deixes. Eu sempre serei o seu ursinho de pelúcia que enfeita a sua cama, mas não deixes de brincar comigo. Mesmo que seja apenas um abraço, tu não sabes como isso é importante para alguém com um coração feito de um material tão maleável.
 Pauta para Créativité, 8ª edição gênero-situação. Tema: Frase em negrito.
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Pessoal que lê e passou a ler o meu blog, desculpem-me por não postar mais textos, mas como eu moro em Caxias e passei a estudar no Cefet, eu madrugo e chego em casa no meio da tarde. Não prometo que vou sempre postar, mas podem ter certeza que quando tiver tempo, será para o blog. Obrigada.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Insana

          Quando disseram para mim que eu era insana
          Gargalhei até lágrimas escorrem pelas minhas bochechas,
          Pensei ser só uma brincadeira
          E não dei muita importância.

          Com o passar dos anos
          Descobri que eu era louca,
          Que a tênue linha que eu guardava com tanta segurança
          Foi cortada com uma adaga vermelha.

          Suja do sangue de quem um dia eu matei
          E larguei ao relento,
          Não pense que foi uma morte rápida,
          Fiz questão que fosse dolorida, sofrida e inquietante.

          E pelo barulho da noite
          Não consigo mais dormir,
          Estou sufocada com tantas mentiras,
          E a adaga está cravada no meu peito.

          E quando penso que não há dor maior do que ser insana
          A adaga se desfaz,
          Ele, com todo o seu ar
          Retira-a de mim.

          E a quem feri e com seu sangue manchei a adaga,
          Agora vem a mim com todos os sentimentos reconstruídos,
          Os mesmos que matei há alguns anos,
          Tornando-me louca.

          Não me arrependo de nada,
          Dos dias que passei manchada,
          Mas acredito que a minha loucura,
          Seja a mais rara.

Pauta para Bloínquês, 23º edição poesia. Tema: loucura.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Escute as suas próprias palavras

                    Querido diário,



          Finalmente consegui aproveitar minhas férias, coisa que estava sendo um pouco difícil desde que eu terminei com o...



...Lucas. Ele era um amor no início, tratava-me bem, dava-me girassóis e os seus beijos eram quentes e acolhedores, mas desde que eu planejei aquele piquenique no...


...campo, ele tem me tratado diferente. Ele andava frio e calculista, não opinava em nada, nem me abraçava quando havia oportunidade. Por isso resolvi terminar com ele. Isso foi muito doloroso, para o Lucas! Ele não conseguiu aceitar que tudo havia acabado e me perseguia pela escola. Eu dei um basta nisso, revelei os meus sentimentos mais profundos e ele aceitou que era melhor nos separarmos. Eu não o culpo por nada, mas parece que ele anda se...


...culpando. Ele fica sozinho no almoço, não conversa com ninguém, e todas as vezes que passo pela casa dele, vejo-o em pé na janela, a olhar para o nada. Eu espero que ele melhore e siga em frente, pois eu já comecei a caminhar.

Pauta para Créativité, 2ª edição passatempo. Tema: Férias, namorado, campo, solidão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Verão maldito

          -Você viu o que aconteceu em Friburgo?
          -Não, o que?
          -Houve uma catástrofe climática!
          -Explique melhor.
          -Bem, uns morros caíram e mataram muita gente. – Silêncio. – Além disso, o rio encheu e levou várias pessoas. – Levantada de sobrancelha. – Por quatro quilômetros.
          -Isso é muita coisa.
          -É mesmo, Itaipava também foi atingida.
          -Sério?! Eu estive lá há uns quatro dias atrás.
          -Você teve muita sorte de não ir no dia da catástrofe.
          -É mesmo, mas eu consegui registrar os últimos dias de glória de Itaipava. – Silêncio. – Eu posso vender as fotos como o antes e o depois.
          -Você vai ganhar um bom dinheiro.
          -Obrigada amigo.
          -Eu ganharei alguma comissão?
          -Por quê?
          -Eu te informei sobre a catástrofe.
          -Pois é, mas sou eu quem tem as fotos, bom dia.


ANTES


DEPOIS




Pauta para Créativité, 2ª ediçõa diálogo. Tema: Catástrofes climáticas.

Eu lamento muito o que aconteceu em Itaipava e em outras localidades, isso tudo é uma grande fatalidade. O diálogo acima não revela nada sobre meu verdadeiro sentimento sobre tudo isso, já que é um texto meio "não estou nem aí". Espero que tudo isso, em breve, seja apenas uma lembrança para todos nós.

P.S.: É verdade que eu estive em Itaipava alguns dias antes de catástrofe. Eu sou a garota segurando a água no alto.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Caderno adesivado






Pauta para Crétivité, 1ª edição colagem. Tema:Capa

Aeee! Primeiro post de 2011! Começando com duas fotos os meu caderno adesivado. Todas essas figurinhas foram retiradas do meu álbum de colecionador, e como eu não tinha contact, eu passei durex. Agora, imagina eu passando fio por fio (aquele durex fino), mas valeu a pena!