segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Missões únicas


      Rio de Janeiro, 22 de maio de 1962.

            Alberto,

      Olá pequeno viajante deste mundo. Devo começar esta carta com uma simples pergunta: "gostou da sua estadia?". A maioria dos que estão ao meu redor reclamam do pouco tempo que tiveram, da falta de oportunidades e o desconhecimento do amor. Culpam-me por tudo, dizem que sou negra e do mal, pois lhe digo agora para não haver confusões mais tarde. Não sou maligna, realizo apenas o trabalho que foi designado a mim, não tiro a vida das pessoas, apenas as acolho quando não há mais o que fazer na Terra. Concordo que muitos me acompanham cedo demais, mas não por minha culpa. Pessoas ingratas, ignorantes, que não encontram um equilíbrio na vida acabam por aqui antes. Agora você se indaga que muitos artistas se foram antes dos trinta anos, explico-lhe o porque. Algumas pessoas nascem destinadas a fazer algo grandioso, mas elas tem tanto potencial que espalham a sua mensagem rapidamente, e convencem até os mais céticos. Essas pessoas, em determinado ponto, já completaram a sua missão e não têm mais aquela vontade de continuar. Só que você deve lembrar que eu não trabalho sozinha, o meu chefe fez os humanos para que vivessem por várias décadas, alguns chegam a um século, para concluir o seu encargo. Quando ele é completado muito cedo, elas recorrem a métodos inseguros para tentar, de algum jeito, chegar à uma novaa missão. Então, o problema é este, as pessoas só tem uma incumbência na vida, e nada fará que ela ganhe outra. Respondendo, finalmente a questão, os que chamamos de artistas morrem mais cedo pela busca incansável de algo novo para se fazer, pois vocês, humanos, não conseguem ficar parados no tempo. Quanto aos ignorantes que chegam por aqui mais cedo, eles simplesmente não aceitam a sua função, e querem mudar rápido demais. Estes são levados para não desequilibrar o mundo.
      Tem aqueles que não possuem oportunidades de florescer, nasceram pobres, em uma família desestruturada ou até com boa condição, mas com falta de vontade. O que eu posso fazer por eles é só apressar um pouco mais, para que a dor deles não seja tão grande.
      Voltando para o meu questionamento sobre a sua estadia, sei que soube aproveitar a missão que lhe foi dada. Agora, posso lhe dizer qual foi: "Faça os homens rirem, pois entre os ludíbrios das suas ideias eles se tornam amargos. Através do riso dará ao homem a esperança, conhecerá o interior deles, e aquietará suas intranquilidades. Sua missão é expandir o bastante até atingir cada recanto onde haja escuridão, e levar aí a luz." Parabenizo-o por ter a cumprido tão bem, e antes que se pergunte como você a fez, peço para lembrar da sua infância, dos seus conselhos, das suas piadas. Quando adulto, recorde-se do seu trabalho, as casas que fez que alegraram tantas pessoas, o tanto de conhecimento que teve sobre o interior das pessoas, para que elas se sentissem seguras nas suas casas. Agora, busque em sua memória a última coisa que fez antes de sua amada partir. Você a fez sorrir. Mesmo com todas as doenças, comigo ao lado dela, a sua paixão se perdendo, você a fez se alegrar.
      Estou orgulhosa de você, meu amigo, e é por isso que hoje chego tão tranquila à você. Sei que mesmo sabendo que a sua hora chegou, sorrirá para mim, pois esta é a sua missão, está é a sua vida.

                                    De uma amiga acolhedora,
                                                                Morte.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que você faria?



O que você faria
Se fosse o seu último dia?
Correria pela avenida
Seria um suicída,

Abraçaria todos na rua
Dançaria na chuva
Escalaria o Pão de Açúcar
Comeria granola com fruta,

Nadaria nu no mar
No chuveiro iria de roupa
Passearia pelo Rio de Janeiro
Pintaria o cabelo,

Pegaria um avião
Só pra ver o céu e a sua imensidão
Beijaria o amor da sua vida
Nadaria de sapatos na piscina,

Adotaria um cão
Um gato, uma coruja, um gavião
Impressionaria aquela menina
Diria o que sente aquele menino,

Fumaria só pra saber o gosto
Fingiria que é carnaval pra fazer alvoroço
Pularia de uma ponte
Teria um codinome,

Cantaria karaokê
Imitaria um francês
Cortaria o cabelo
Gastaria dinheiro,

Visitaria seus antigos amigos
Amaria sem compromisso
Iria à um show
Andaria de elevador,

Desenharia
Apostaria
Seria um mágico
Compraria um carro,

Chamaria alguém de perfeito
Fingiria ser estrangeiro
Viajaria para o campo
Quebraria um espelho,

Plantaria uma árvore
Veria o sol nascer
Pediria perdão
Gritaria em uma multidão,

Iria à academia
Acamparia
Andaria de skate
Mascaria dez chicletes de uma vez,

Abraçaria o seu filho
Faria amor com o seu marido
Conheceria o seu ídolo
Escreveria um livro,

Rezaria
Dirigiria
Demitir-se-ia
Rosas colheria,

Comeria muitos doces
Fotografaria as pessoas
Pintaria um quadro
Assitiria uma aula de teatro,

Contaria estrelas
Usaria o telescópio para ver planetas
Ligaria para o seu melhor amigo
Abriria a porta do hospício,

Gastaria todos os créditos do telefone
Entraria em uma fonte
Responderia à um policial
Faria um comercial,

Taparia a boca do seu amigo com durex
Leria sobre a internet
Compraria uma câmera
Dormiria na varanda,

Viraria uma guitarrista
Salvaria uma vida
Ou simplesmente morreria?
Se me restasse um dia, eu aproveitaria,

De todos os meus arrependimentos
Eu me arrependeria
E morreria feliz
Por tudo o que fiz nesta vida.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os caminhos da lágrima


Enquanto ele gritava comigo, eu pensava que podia estar em um lugar melhor, com uma pessoa que realmente me merecesse. Eu era tão apaixonada por ele que não conseguia ver os seus defeitos, mas a sua voz rouca e doce se transformou em um trovão, e isso que fez acordar de um sonho muito bom. Ele nunca me ameaçou, e não seria dessa vez que faria, mas quando ousei abrir a porta do quarto ele me puxou e minha mão fez uma marca em seu rosto. Ele me olhou com ódio e me empurrou, fazendo com que eu batesse a cabeça na parede. Fiquei atordoada, demorei alguns segundos até vê-lo novamente, então eu agarrei o vaso de cerâmica e acertei sua cabeça. Ele caiu, estava nos meus pés, o sangue começou a escorrer acompanhando as minhas lágrimas.
Dentre uns dez minutos, eu estava no carro do Miguel, com o Rafael no meu colo, segurando uma toalha contra o seu ferimento na testa. Repetia comigo mesma o pedido de desculpas, por ter o machucado tão seriamente. Ele abriu os olhos, aquelas grandes azeitonas pretas me encarando, e dos seus lábios soou: desculpe-me.
Continuei olhando para os ombros de Miguel, estava muito chateada e vulnerável para olhar nos olhos de Rafael. Minhas lágrimas escorreram e caíram no seu rosto, e neste momento eu senti a sua mão nas minhas costas. Eu pude entender, ali, sentada naquele carro, que tudo poderia acontecer, e que eu fora perdoada, e que só faltava eu o perdoar. No tempo certo, ele entendeu.


Pauta para Suas palavras. 31ª edição imagem. Tema: Imagem do texto.

1° lugar!

domingo, 4 de dezembro de 2011

2 ANOS!

O Writeland fez 2 anos!

Nossa, eu esqueci completamente, e não foi só isso, eu parei de escrever aqui. Estou sem inspiração e tempo, mas agora que eu passei para o 2° ano no Cefet/RJ e estou de férias, acho que tudo vai melhorar.

E que venha mais um ano!
30/11/11