segunda-feira, 30 de abril de 2012

Para os meus amigos


       
        Eu convivi com meninos a minha vida inteira, o que se pode chamar de quinze anos. Eles são mais legais, não fazem fofoca (mas adoram saber de uma novidade), conversam sobre tudo abertamente e não tem problema com abraços, eles até adoram, mas não afirmam isso. Eles são totalmente gentis, se você pedir com jeito eles fazem, se cair eles te levantam, se precisar de um professor particular eles te ajudam.
        Estudar com trinta meninos e sete meninas na mesma turma não é fácil. Nunca vi tanta besteira ser feita e falada em menos de um minuto: é vôlei com bolinha de papel na sala, ping-pong na mesa do professor, GTA, LOL, violão sendo roubado, tênis voando, meninos cortando caminho pelas mesas, lasers no teto e por aí vai. É um grande circo que eu adoro fazer parte. E devo me lembrar também que quando chega a hora da aula eles se calam, como se fossem outras pessoas ajeitam-se nas cadeiras e abrem os seus olhos, na maioria das aulas.
        Esse assunto de amizade entre menino e menina existe sim, claro que a grande maioria começa com um flerte, com uma segunda intenção, mas isso acaba se esvaindo e a amizade toma conta. É uma vontade de cuidar, de fazer cafuné de manhã, de perguntar se está tudo bem, de pedir para carregar a mochila com a maior inocência nos olhos. E surge um ciúme quando o menino se aproxima muito de outra pessoa, de uma suposta nova namorada. Aquele alerta soa, como se estivesse avisando que tem outra fêmea na área. Nós corremos para certificarmos tudo, para dar conselhos, para descobrir se ele está em boas mãos, porque amigas fazem isso.
        O interessante é o oposto, quando as meninas arrumam um namorado. Eles se tornam guarda-costas sutis, perguntam se está tudo bem e sempre ficam pensando no que pode ter acontecido naquelas três horas que você sumiu, parecem querer acabar com tudo aquilo se não gostarem do menino. Se eles forem amigos é uma piada só, ficam conversando com você e sobre você, dão conselhos e protegem, ás vezes servem como pombo correio para mandar aquela indireta que você precisava, são capazes de brigar com o melhor amigo para te defender, se aceitarem o seu ponto de vista.
        Quando o seu namorado tem uma melhor amiga nós acabamos incomodadas, querendo saber se não é uma paixão retraída. Na maioria das vezes você acaba cedendo e se torna amiga dela, descobrindo que tudo o que eles tem é uma amizade sincera, cheia de comédia e música.
        Os meninos são os melhores amigos que podem existir, eles podem torcer o seu pé na educação física, podem ensinar matemática mil vezes, discutir sobre casamento frustrado, ensinar-te a jogar video game e desistir no meio do caminho, dizer que você está com uma cara horrível de manhã, criar intriga só para ver a sua reação e fazer você competir por atenção contra o wi-fi de graça, mas eles nunca mentirão para você. No máximo podem omitir a verdade para o seu bem e para a segurança de outras pessoas que estiverem muito perto. Eles aguentam a sua tagarelice, seus ataques matinais, suas dúvidas inconvenientes, sua carinha de gato de botas e suas mordidas.
        Cada amigo que tenho é especial, todos eles me cativaram. Existem algumas exceções, um amigo que se tornou melhor amigo, outro que virou namorado. Se eu precisar é só chamar, e se um dia eles estiverem em apuros eu estarei pronta para atender os seus chamados. Santo Deus este que me fez mulher, porque se eu fosse menino eu não conheceria este lado da história, este lado tão gratificante de ter amigos como os meus. Só meus.

domingo, 29 de abril de 2012

Deixe-me clarear

          Como facas as palavras me ferem, ou pior, a ausência delas. Tenho medo de nunca ser boa o suficiente, inteligente o suficiente, carinhosa o suficiente, feliz o suficiente. As pessoas tendem a achar que estou feliz o tempo todo, pelo simples motivo de estar sorrindo as sete horas da manhã em plena segunda-feira. Se elas soubessem o quanto dói sorrir demais, o quanto dói ser assim, gostaria que elas vissem o que sou, mas se isso acontecesse elas nunca mais olhariam para mim. Sou triste, sou obscura, sou a solidão em pedaços de carne e alma. Pelo menos por enquanto.
          E quando estou feliz é como se ofuscasse os outros, ofuscasse até a mim mesma e toda a escuridão que carrego. As pessoas sentem inveja, até ciúmes. E eu volto a ser a mesma.
          É tão difícil arrancar palavras bonitas dos outros, eu me esforço tanto para isso, e no final são apenas sorrisos falsos. Querem falsidade em cada olhar? Olhem-se no espelho. Faço isso todos os dias e vejo alguém que não sou. Não seja por isso, se a água pode se tornar vinho, posso voltar a ser límpida novamente.
          Como facas as palavras me ferem, ou pior, a ausência delas. Não terei mais medo disso, se vierem com facas, já estarei com a arma: eu mesma.

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Desculpem-me por não ter postado antes, tive um mês muito conturbado, algumas decepções, algumas alegrias, vai melhorar...