quinta-feira, 24 de março de 2011

Viva eu!

          Há algum tempo estava tendo uma promoção lá no Profano Feminino. Como boa escritora e curiosa, dei uma olhadinha e participei. Eu deveria escolher um dos dois livros e responder à uma pergunta. Eu escolhi Amor e amizade da Clarice Lispector e respondi à pergunta: qual a linha que separa o amor da amizade?

          "Não há como dizer onde começa e termina, mas o amor e a amizade estão ligados, e mesmo que haja uma linha tênue separando, nunca poderíamos denominá-la. Eu digo que as amizades são o começo de qualquer coisa, que para confiarmos temos que ser amigos. O amor não é muito diferente, mas quando há amor, não raciocinamos direito, ficamos corados e sempre muito ansiosos. De uma amizade pode nascer um amor e vice-versa; mas uma coisa que eu tenho certeza é que nunca poderíamos chamar de amigo uma pessoa que não amássemos."

          Pois bem, eu fiquei entre as dez, depois entre as três e finalmentem fui escolhida como a GANHADORA! EU GANHEI O LIVRO! E aqui estão duas fotos (que o blog me pediu) para comprovar como o livro é fofo! Eu ainda não li pois estou em semana de provas lá no Cefet, mas prometo degustar de cada palavrinha!


  


  

quarta-feira, 16 de março de 2011

As luzes das estrelas

     O pai foi desejar boa noite ao filho:
          - Arthur, eu queria falar uma coisa muito importante com você.
          - O que foi papai?
          - Eu quero dizer pra você não ter medo do escuro.
          - Mas papai, o escuro é mau.
          - Filho, o escuro não é mau. Você sabia que as fotos antigamente para serem reveladas eram no escuro? E que só podemos ver as estrelas e a lua no escuro? E que a luz, para ser apreciada, necessita da escuridão?
          - É mesmo, papai?
          - Sim, e não é preciso que você durma com o seu abajur ligado, você nem consegue ver a lâmpada!
          - Mas eu gosto dele.
          - Filho, não tenha medo de apagar o abajur, pois muitas estrelas no céu se apagaram, e nem por isso elas deixaram de brilhar para nós.
          - Como assim?
          - Elas ficam tão longes, que mesmo que não existam mais, as suas luzes nos acompanham por um bom espaço de tempo.
          - Quer dizer que o meu abajur vai me acompanhar?
          - Quando a luz se apagar, você ainda se lembrará dele ligado, e olhará para o teto e verá coisas que não via com a luz acesa, você conhecerá um novo mundo.
          - Tudo bem papai, desligue o abajur.
          - Não, você tem que fazer isso por si só. Ver as estrelas de noite é só para quem tem coragem de olhar para cima.
          O garotinho sorriu.
          - Boa noite Arthur.
          - Boa noite papai.
          O pai deu um beijo em seu filho e a luz foi desligada.


Pauta para Créativité, 10ª edição dialogue. Tema:última conversa do dia.

terça-feira, 8 de março de 2011

Jornal cafeinado


          Eu estava um café, distraído com o meu jornal, tentando arrumar as palavras para a minha nova coluna. Neste momento ouvi gritos e acusações, mas estava muito concentrado para prestar atenção. Baixei o jornal quando vi uma mancha de café escorrendo sobre a coluna de Júlio Alves, minha feição não era uma das melhores. Mirei na mulher com a maquiagem borrada, muito bem vestida, estava com um vestido vermelho até os joelhos, com um decote que chamou a minha atenção. O homem estava de smoking e muito sério, não olhava diretamente para a mulher, e ela se mexia muito, principalmente com as mãos, explicando algum acaso.
          O homem fingia-se distraído, mas ouvia o que ela dizia. Podia-se perceber pelo jeito com que as mãos suadas se secavam na calça, os dedos se estalavam e a cabeça mudava de posição conforme o tom da voz da mulher. Só comecei a prestar atenção na briga quando pingou algumas gotas de café na minha calça e eu amassei o jornal, rascunhando algumas palavras na folha de papel. Eles estavam brigando porque o homem havia convidado a irmã dela para dançar, não percebendo a diferença.
          - Vocês são gêmeas! – Gritava ele.
          - Você está casado comigo há três anos e não sabe a diferença?
          Além de convidar, ele havia a beijado e dito palavras carinhosas, sem se dar conta de que não era a sua esposa. Ela chorava muito, e dizia que queria o divórcio, e ele, desesperado, afirmava ter sido uma pequena confusão por ter bebido a mais. Eu, que nada conhecia do amor, que dedicava cada segundo do meu dia ao trabalho de escreve colunas para jornais, levantei-me daquela cadeira e pus minha opinião em pauta.
          - Não vêem o que está na frente de vocês? Estão casados há três e por uma briga boba vão se separar? A sua irmã devia ter vergonha do que fez, pois pelo o que ouvi, foi ela que o convidou para dançar. E se ele veio atrás de você, é porque ele te ama. Eu não sou um sábio, mas a verdade é que eu já vi muitas histórias de amor nos jornais, algumas trágicas e outras felizes. Não deixem que esse jornal acabe molhado de café e amassado na lixeira.
          E os olhos antes fuziladores, acalmaram-se e se transformaram em um abraço eufórico e sincero em mim. Eles se beijaram e o homem secou as lágrimas manchadas do rosto dela. Eu ganhei uma história para minha coluna, e eles ganharam a vida de volta.

Pauta para Bloínquês, 57º edição conto/história. Tema: Frase em negrito.