segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quem sabe ao despertar



Uma colina. Dificilmente seria possível encontrar cena mais meiga do que um casal de adolescentes deitados sob uma robusta árvore lá no topo. Talvez tocassem o céu,talvez não...mas certamente tocavam um ao outro em um abraço carinhoso enquanto observavam a magia que existe em todo pôr-do-sol.
      A garota, bela como uma deusa ou talvez delicada como uma donzela, deita sobre o garoto, espalhando assim seus não tão longos cabelos que se desdobraram e desenrolaram-se pela grama em uma bela dança mística que agradou até mesmo o deus do mais longínquo reino. O garoto, que a permite tal conforto para que possa admirá-la ao longe, sem ser percebido... Como fazia em cada oportunidade.
      Ali,sobre o pôr-do-sol, se fazia um momento raro para o menino: estavam sozinhos. Sem amigos, sem parentes... só os dois. Isso já ocorrera antes. O momento em que o menino prometera para si mesmo que o faria se transformar em homem, E como homem, revelaria a ela a verdade; o que sente. Mas então, assim como nas outras vezes, algo o impede. Ele se pergunta o que seria essa mão em sua garganta... Sufocando-o e o impedindo de proferir uma só palavra. O que o estaria fazendo sentir essa tontura... Essa falta de ar.
      A bela menina observava com seus brilhantes e profundos olhos castanhos a última coberta avermelhada que se fazia sobre a colina e o resto da cidade. O espetáculo agora se transformava... a exorbitante energia que vinha do calor avermelhado do sol tinha seu lugar tomado pelo brilho celestial das estrelas... que observava o casal com alegria ou talvez com apreso. O garoto toma uma decisão. Será forte!
      Ao tentar falar, suas palavras não alcançam seu destino, ficando no meio do caminho em sua garganta, vítimas da falta de ar, que nesse momento fazia o garoto sentir tonturas.
      Tenta de novo.
      -Sabe... As vezes eu imagino como será minha vida no futuro...se eu manter meus arrependimentos. - o garoto finalmente conseguiu a coragem que precisava para suas primeiras palavras. Agora deveria continuar – não quero manter meus arrependimentos!
      A menina permanecia lá parada... de fronte para o ainda azulado céu cheio de incontáveis diamantes daqueles que nunca serão tocados por nenhum homem.
      -Somos amigos desde me entendo por gente. Existem coisas sobre mim que apenas você sabe. – o menino abre um sorriso e passa a mão por sobre seus cabelos desgrenhados – acho que você é a única pessoa no mundo em quem confio totalmente...
      A menina, imutável, permanecia deitada, com sua pele extremamente branca contrastando com o forte verde do gramado.
      -O que quero dizer é que com você sempre foi diferente. Você é especial, logo, o que sinto por você é especial.... Eu te amo. – e o garoto deixa sua cabeça descansar apoiada no tronco da forte árvore.
      Uma colina. A lua ilumina e honra ao que seria uma cena quase insubstituível. A menina descansa seu corpo sobre o jovem garoto, que a observa, incansável, deixando sua mente correr do glorioso ao obscuro e por fim no angelical. Angelical como a menina que adormecia em seus braços, a menina a quem ama o jovem garoto, ainda um garoto.
      -É engraçado encontrarmos esse luar em um lugar tão especial como este. Fico feliz de estar aqui com você, mesmo que não esteja me ouvindo. Pena que não tive coragem o suficiente.
      -Quem sabe ao despertar.

Texto do meu superamigo Pedro Henrique Miranda Gomes, futuro escritor, guitarrista e alguma coisa a ver com mecânica.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Piquenique no parque



      Eu nunca quis que nenhum dos meus relacionamentos acabasse, mas eu penso que é impossível duas pessoas tão diferentes continuarem juntas. Não sou madura o suficiente para entender isso, pelo menos acho, não desejo descobrir no futuro que o que eu sabia era verdade, quero algo bonito e verdadeiro. Isso acontece com o meu namorado também, estamos juntos à cinco meses e nos vemos, no máximo, duas vezes por semana. Eu afirmo que não precisamos ficar juntos todo o tempo, pois este é o grande problema, toda essa 'chicletice' com os namorados. Eu penso que temos que ter o nosso espaço, e quando bate a saudade de alguém, nós marcamos e nos vemos. Ele nunca reclamou, eu sempre achei que estava tudo bem. Até o dia em que ele falou:
      - Fernanda, eu estou cansado.
      - Cansado de quê?
      - De nos vermos tão pouco. Eu sinto a sua falta.
      - E eu também, mas não estamos a matando agora?
      - Sim, mas então você vai embora e o buraco no meu peito se abre novamente.
      Sim, ele reclamou muito depois disso, ficamos discutindo o que era melhor, usando os argumentos que tínhamos: a minha razão e os sentimentos dele. Não precisávamos mudar, eu tinha o meu espaço e gostava dele. Ele pediu um tempo, disse que não suportava tudo isso, e que talvez precisasse de alguém mais próximo, mais carinhoso. Não suporto que me coloquem defeitos, mesmo que não seja diretamente. Tento ser uma pessoa boa, mas quanto aos meus sentimentos, quero que eles serão priorizados pela pessoa que estiver comigo. Se ele não tem capacidade para fazer isso, que procure alguém que necessite de um apoio.
      - Você só pensa em si mesmo!
      - E você? Desde quando você me telefonou para dizer que queria me ver? Eu sempre tomei as atitudes. - Ele gritou.
      - Eu não sentia tanto a sua falta assim!
      - Então você não tem sentimentos, e é por isso que eu não quero ficar mais com você!
      Ele jogou na minha cara que eu era uma pessoa vazia, gelada, sozinha. Não o vi mais, permaneci só em minha solidão por mais de dois meses, e finalmente eu sentia o que ele chamava de saudades. É um grande aperto no coração, quando nós não sabemos se a outra pessoa está pensando em você; nós queremos vê-las, mas não sabemos se é possível. Não queria sentir, queria apenas esquecê-lo, mas isso era muito difícil para mim naquele momento. Saí. Levantei da cama e fui dar uma volta pelo Parque Laje, onde nós nos conhecemos. É um parque lindo, calmo e que me proporcionava a sensação de paz. Não foi a sensação que tive no momento, mas sim a saudade batendo constantemente no meu peito quando o vi sentado, sobre uma toalha vermelha com uma cesta de piquenine. Não acreditei, nós fazíamos piquenique naquele lugar, e agora ele estava com outra pessoa, fazendo o que eu mais gostava. Quando ele me viu dando meia volta, gritou meu nome sem pensar, não sei se talvez se arrependeu.
      - Fernanda?
      - Oi Bruno, eu não pensei que estaria aqui.
      - Eu ainda gosto de piqueniques.
      - Quem é a sortuda? - Não queria que a última palavra saísse, mas foi mais forte do que eu.
      - Ninguém. - Disse assustado. - Estou sozinho.
      - Que ideia é essa de fazer um piquenique sozinho? Donde é que já se viu? - Minha voz ficou um pouco mais trêmula.
      - Isso me lembra você.
      E com a saudade batendo na porta, apertando a campainha e gritando muito alto, eu falei:
      - Sinto saudades sua.
      - O quê? - Ela não acreditou, óbvio.
      - Sinto sua falta, da sua voz, do seu carinho, de tudo.
      - Fernanda, eu também, mas não posso mais aguentar aquela situação, de ficar dias longe de você, e só eu sentir alguma coisa.
      - Eu sinto algo agora, sinto-me diferente.
      - Então, por que nós não tentamos novamente?
      - E acabar com essa distância entre nós dois?
      - Por que não? Claro que você terá que ceder um pouco mais.
      - Você tem sanduíche de peito de peru?
      - Sim. - Respondeu em um tom de pergunta.
      - Então me dê, que eu sento do seu lado e a gente acaba com essa distância.
      - Para sempre?
      - Veremos senhor do piquenique.

Pauta para Bloínquês, 93ª edição musical. Tema:E acabar com essa distância entre nós dois?