sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Imensidão azul

O lago não é da cor dos teus olhos, mas me lembra você.

          Sentou-se na poltrona azul que soltou um grande ruído, pois já era antiga, herdada de família. Olhou para a folha em branco, apoiou sua cabeça em uma das mãos e puxou alguns fios de cabelo. A cada cinco segundo ajeitava os óculos e olhava para a ofuscante luz que emanava de sua luminária azul. Abaixou-a e cerrou os olhos. Pensou sobre o que escrever até a sua mão ser queimada pelo calor da luminária.
          Levantou-se da poltrona e jogou as folhas para o ar, deitou-se no sofá e admirou sua cadela. A sua fiel escudeira não possuía mais de três palmos de largura, sendo a sua mão pequena, não mais de cinquenta centímetros. Era uma maltesa branca, que com o seu porte magnífico estava deitada com as patas todas voltadas para o seu interior, como se quisessem ser aquecidas, retirando uma única pata traseira que acompanhava as curvas do sofá.
          Suspirou e se levantou, recolhendo as folhas espalhadas pelo chão e se sentando novamente da poltrona barulhenta. Sua maltesa acompanhou os seus passos e repousou sobre os pequenos e aquecidos pés de Tamina, sua dona.
Passou os dedos nas folhas e rabiscou uma linha para o título. Deslizou o lápis até o parágrafo e escreveu um pequeno poema, já que estava sem inspiração para começar o seu novo livro. Ela era uma escritora de grande sucesso, com uma trilogia sensacional e seguidores ansiosos para o quarto livro, que a deixava noites sem dormir, pensando no enredo. Não era tão difícil escrever um livro, na opinião dela, mas para quem escreveu um poema sobre violetas, ela pensou ser mais que um desafio.
          Volte e meia ela olhava para o porta retrato ao lado da luminária: um rapaz alto, pouco malhado, olhos verdes, cabelos escuros e com um sorriso de canto amenizavam suas ideias. Sendo abraçada por ele estava Tamina: estatura mediana, magra, olhos castanhos-escuros, cabelo castanho-avermelhado e com um sorriso verdadeiro; era um casal que poderíamos chamar de bonito.
          “Com amor, Jeremy”, assim estava assinada a foto que foi tirada perto de um lago, imenso e azul. Ela sentia vontade de pular para dentro do porta retrato e nadar naquela imensidão com o seu namorado, sem ligar para o tempo e compromissos que atordoavam o relacionamento. Eles não se viam há três semanas, e isso fazia Tamina chorar, sozinha, no quarto à noite.
          Sua maltesa se levantou e latiu suavemente, a porta tinha sido fechada. Com o porta retrato na mão e o taco de hóquei do pai, levantou da poltrona que rangeu, ecoando o som por toda a sala. Andou até a porta da cozinha e gritou ao ouvir:
          - Tamina?
          Ela se virou e constatou quem havia aberto a porta. Alto, com cabelos negros e olhos verdes, lá estava Jeremy com toda sua imensidão, vestindo um casaco azul, o qual a fazia lembrar do lago.
          - Você voltou... – Disse, soltando o taco de hóquei.
          - Bem, você não retornou as minhas mensagens, então eu pensei vir aqui e ver se estava tudo bem.
          - Você vai ficar?
          - Claro! Você é minha namorada. Eu comprei isto para você.
          Estendeu a mão com uma pequena caixa, ela soltou o laço azul e puxou o papel de presente acinzentado. Lá estava, um porta retrato com bordas anis, contendo a foto do dia do lago.
          - Este foi o nosso último passeio antes de eu viajar, é muito importante para mim. – Ela estendeu o braço e entregou à ele o porta retrato da sua mesa, que continha a mesma foto. – Você tem um...
          Não deu tempo para ele terminar a frase, seus lábios já estavam juntos e não havia como se separarem, pelo menos na opinião dos dois. E assim ficaram por um bom tempo.
          A sua fonte de inspiração havia voltado, e mesmo que ela nunca tenha reparado, ele sempre foi o herói dos seus livros. A folha deixou de ser branca e parágrafos viciantes tomaram o seu lugar. No final todos ficaram felizes: Tamina com Jeremy, os seguidores da trilogia com o quarto livro, a folha com os seus devidos rabiscos e a maltesa com dois pares de pés quentes.



Pauta para Créativité, 1ª edição C&F. Tema: Começar e terminar o texto com a letra 's'.

2 opiniões:

Projeto Créativité disse...

*-* lindo o seu texto!
e o final ficou perfeito!
parabéns.

Eu(Bruna) estou fazendo a revisão da 1ªedição c&f, porque uma avaliadora fez errado, então essa é a segunda avaliação!

Patrícia N. disse...

Selo para ti lá no meu blog *-*

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