domingo, 19 de dezembro de 2010

O paraíso dos dragões


          Hoje eu me lembro muito bem do que sonhei: com nuvens brancas destacadas em um céu azul, com quedas d’águas deslumbrantes e com um dragão. Ele só veio aparecer no final do meu sonho, mas foi o mais marcante, era preto. Alguns pontos eram dourados, como a ponta de sua cauda e o contorno de suas asas; elas eram acinzentadas, mas se encaixavam bem com o todo. Seus olhos, não pude esquecer deles, eram grandes e vermelhos.
          Dizem que os dragões são insociáveis, mas eu não acredito nisso. No meu sonho ele planava sobre a cachoeira e vinha ao meu encontro todas as vezes que me distraía com algo bobo, quando me virava ele sumia. Não sei onde se escondia, mas quando fechava os meus olhos, podia ouvir o som da sua respiração, o calor de suas narinas balançando o meu cabelo. E pela terceira vez, quando meu cabelo já estava quente, abri os meus olhos e pus a segurar seu focinho e encarar os seus olhos. Pergunto-me por que fiz aquilo, mas não me arrependo. Seus olhos vermelhos – como já disse anteriormente – ficaram pretos, e as minhas pequenas mãos brancas sobressaíam no negrume que era a sua pele.
          Ele não era um dragão comum, pelo menos eu achava que eles possuíam escamas por todo o corpo. Mas o seu focinho era liso, seus chifres pontudos e as suas asas poderiam protegê-lo todo, já que eram enormes – e quando digo enormes é porque eram gigantes. Não poderia haver animal mais bonito que aquele.
          E em um rápido movimento eu estava na sua corcunda, agarrada ao seu longo pescoço – que agora já era escamoso – voando sobre a bela paisagem abaixo. Quando batia as asas, podia sentir a força que realizava, e por poucos segundos ouvia o batimento de seu coração. Era lento, mesmo que estivéssemos voando mais rápido que qualquer coisa – não consigo imaginar algo mais rápido – seus batimentos não aumentavam, eram constantes.
          E quando voltamos ao chão e o deixei, seus olhos passaram a seres vermelhos, e fiquei os admirando por um longo tempo. Ele não se movia, sua respiração estava mais calma e seus olhos piscavam em sintonia com os meus. Sorri. Ele bateu a cauda e fez tudo estremecer, fazendo-me cair na água fria da cachoeira. Senti a água fria em contato com o meu corpo, mas não cheguei a tocar no fundo, pois sua cauda preta e dourada havia me segurado. Agradeci com o cabeça, e seus olhos que estavam pretos fitaram os meus. Naquele instante pude perceber que o meu toque fazia os seus olhos mudarem de cor, não sabia que reação eu proporcionava àquele dragão, mas achei que era boa, pois ele não fazia menção de me deixar ir.
          Fechei os meus olhos, quando os abri, ele não estava mais ali, mas eu continuava a ser sustentada por sua cauda. Subi pelo seu corpo e aos poucos ele foi se revelando, deixando-me impressionada. Ele não se escondia, apenas ficava invisível – como se isso fosse natural, mas em um sonho com dragões tudo é possível. Agora, já abraçada ao seu pescoço, não estava mais com frio, pois seu corpo era quente e a essa altura já estava seca. Ele bateu com a pata no chão, que possuía quatro dedos com garras afiadas enquanto as traseiras apenas três, ele me fitou e depois olhou para o horizonte. Em um súbito movimento estávamos voando mais uma vez, e quando vi o sol batendo em seus lindos olhos pretos, adormeci sobre o seu corpo, ainda sentindo os seus batimentos.
          Acordei sobre várias folhas verdes, e quando olhei para o alto, deparei-me com um grande carvalho que me proporcionava sombra; eu havia dormido sobre as folhas do meu jardim. O montinho de moveu e eu pulei, fazendo que as folhas voassem e revelassem quem estava escondido sobre elas. Era o meu pequeno beagle Dragão, e então lembrei do dragão dos meus sonhos, que possuía os mesmos olhos pretos do meu Dragão. Eu poderia acordar dessa maneira por toda a minha vida...


Pauta para Créativité, 2ª edição gênero-situação. Tema: Frase em negrito.

4 opiniões:

Aline Neves disse...

Incrível como você consegue me colocar dentro da história, consegui imaginar perfeitamente enquanto lia. Parabéns pelo texto e pelo blog.

Beijo :**

Dani Ferreira disse...

Lendo a sua história eu lembrei do filme Éragon :B
Eu gostei bastante, você descreveu tudo detalhado, como a Aline disse você nos colocou na história, inclusive deu uma vontade de estar nela, parecia tão bom *-*
Bgs :*

Gabriela Alves disse...

Nossa, você escreve muitíssimo bem.
A história foi linda. Comovente. Diferente... Amei *-*
Parabéns pelo blog (:

Italo Stauffenberg disse...

Diferente da Danii, lembrei do dragão do filme Crônicas de Narnia: O pelegrino da Alvorada!

Sei lá, ele era um dragão sentimental, tendo em vista, que era um humano!

Sorte com a pauta e o projeto. Sucesso sempre!

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