sexta-feira, 17 de junho de 2011

Amor cósmico


        - Uma estrela cadente vinda do seu coração caiu, e destruiu tudo o que havia. Eu não posso mais.
        Ela saiu do quarto de hospital, debulhando-se em lágrimas, não continha os soluços. O seu garoto estava em coma, aquele que sempre esteve ao seu lado, que a ajudou nas horas difíceis, estava precisando da sua ajuda, mas ela não tinha forças. Ela simplesmente não conseguia ver o seu próprio namorado naquele estado, em coma.
        Foi um acidente terrível, estava chovendo, e ele com o seu guarda-chuva franzino, que se curvava com vento. O sinal havia fechado, já estava no meio da faixa de pedestres quando o carro o atingiu. Ele sobreviveu, mas perdeu muito sangue e bateu a cabeça, ficando em coma.
        Ana se encolhia cada vez mais em sua cama, tentava esquecer o ocorrido, mas as imagens do hospital rondavam sua mente. Ela gritou, queria que parasse, que as imagens sumisse, e a dor também, mas isso só a aumentava. Ela fechou os olhos e as lágrimas escorreram sem fim.
        Mantinha-se longe dos amigos, da família e principalmente de Rafael, ela tinha em sua cabeça que precisava esquecê-lo, que assim a dor passaria, e os dias seriam menos cruciantes. Ela estava no escuro, o dia e a noite se completaram e explodiram, deixando um vazio. Um total crepúsculo, ela não sentia o melhor nem o pior, a cada dia que se passava a dor a anestesiava contra as ações da vida. O escuro tomou conta da sua visão, a ablepsia congelava sua mente e o tempo, em realidades opostas.
        Estava em profunda depressão. O abismo era tão extenso que rasgos de luz surgiam em sua mente. No dia em que uma grande tempestade caiu, ela o sentiu.
        - Ana? – Ela olhava, estatelada. – Sou eu, o Rafael.
        - Você voltou?
        - Quase, eu estou no limbo, entre a vida e a morte. Estou na escuridão, esperando uma luz.
        - Seu coração bate?
        - Raramente.
        Seu espectro sumiu, a visão deixou Ana perturbada, foi a primeira vez que ela sentira Rafael tão perto novamente, nesses dois meses de coma. Ela o chamou, gritou com todo o ar de seus pulmões, sentia tanta falta dele. As noites eram mal dormidas, ficava a procura-lo pelo quarto, esperando uma aparição.
        Ela sentiu um calafrio, um uma noite sem lua e estrelas no céu. Deparou-se com Rafael.
        - Você...
        - Estou morrendo, Ana. A luz da estrela está se apagando, e não há nada que eu possa fazer. Você precisa me salvar.
        - Como? – Ela já chorava.
        - Procure-me na escuridão.
        Ana fechou os olhos, lembrou-se de todos os momentos bons, e a imagem do hospital veio a sua cabeça. Ela se fechou, deixou ser banhada pela luz da noite, estranha e sem razão pela falta da lua. Ela viveu todo esse tempo na sombra do coração de Rafael, mas nunca havia percebido o quanto a dor a fazia se aproximar dele.
        A porta do quarto de hospital se abriu, e ali jazia ele, de seu semblante pálido sobressaía a escuridão, ela precisava encontrá-lo. Como estavam sozinhos, ela pôs seu ouvido direito sobre o peito de Rafael, escutava as batidas de seu coração, ele estava vivo e perdido em algum lugar. Ela segurou a sua mão e fechou os olhos, adormecendo na poltrona ao lado na cama. Ela permaneceu na sua escuridão, juto a ele.
        Ela sentiu a pressão e acordou, teve uma surpresa ao ver que Rafael a segurava com força. Ela gritou os enfermeiros.
        - Ele voltou! – Gritava a enfermeira, retirando os aparelhos respiratórios.
        - Ele achou o caminho de volta. – Ana segurava sua mão com toda a força.
        Ele abriu os olhos lentamente, deparando-se com os olhos castanhos dela. Deu um sorriso doloroso, mas sincero.
        - Você achou o caminho.
        - Você... – Ele tentou falar. -... E suas estrelas negras.
        Ela sorriu, ele estava bem e isso era a única coisa que importava. As estrelas e a lua sempre estarão no céu, às vezes escondidas pela escuridão. O nosso dever é fazê-las achar o caminho de casa, pelo mapa mais difícil, ou pela estrela cadente mais brilhosa.

Pauta para Suas Palavras, 9ª edição sentidos. Tema: Desequilíbrio.
P.S.: Baseado nesta música.

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