Enquanto ele gritava comigo, eu pensava que podia estar em um lugar melhor, com uma pessoa que realmente me merecesse. Eu era tão apaixonada por ele que não conseguia ver os seus defeitos, mas a sua voz rouca e doce se transformou em um trovão, e isso que fez acordar de um sonho muito bom. Ele nunca me ameaçou, e não seria dessa vez que faria, mas quando ousei abrir a porta do quarto ele me puxou e minha mão fez uma marca em seu rosto. Ele me olhou com ódio e me empurrou, fazendo com que eu batesse a cabeça na parede. Fiquei atordoada, demorei alguns segundos até vê-lo novamente, então eu agarrei o vaso de cerâmica e acertei sua cabeça. Ele caiu, estava nos meus pés, o sangue começou a escorrer acompanhando as minhas lágrimas.
Dentre uns dez minutos, eu estava no carro do Miguel, com o Rafael no meu colo, segurando uma toalha contra o seu ferimento na testa. Repetia comigo mesma o pedido de desculpas, por ter o machucado tão seriamente. Ele abriu os olhos, aquelas grandes azeitonas pretas me encarando, e dos seus lábios soou: desculpe-me.
Continuei olhando para os ombros de Miguel, estava muito chateada e vulnerável para olhar nos olhos de Rafael. Minhas lágrimas escorreram e caíram no seu rosto, e neste momento eu senti a sua mão nas minhas costas. Eu pude entender, ali, sentada naquele carro, que tudo poderia acontecer, e que eu fora perdoada, e que só faltava eu o perdoar. No tempo certo, ele entendeu.
Pauta para Suas palavras. 31ª edição imagem. Tema: Imagem do texto.
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