quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mil noites de lua cheia


                Fitando aqueles olhos negros, não sabia se era real. Aqueles olhos caídos me faziam cair de mim mesma, do meu ser e de toda aspiração que pudesse vir a ter. Ele me consumia como um chocolate amargo, cacau puro, doce sereno. Eu ia descendo por todas as suas vertentes, por todos os seus pensamentos, e lá estava sentado na cadeira do auditório, com aquela expressão de aconchego. Eu estava em pé, no outro lado, apenas nossos olhos se cruzavam, e eu caía no abismo daquele ser. Eu me deixava cair.
                Desviei o olhar. Como pode alguém ter o melhor e o pior de mim? Como pode alguém fazer-me parar de uma hora para outra? Assim como os girassóis seguem o sol, ele era o meu sol. Eu seguia os seus leves movimentos, as piscadas, os sorrisos, como ele passava a mão no cabelo. Eu tinha a necessidade de estar perto, ele me consumia como um chocolate amargo, consumia-me só pelo desejo de consumir, e ele não fazia ideia disso.
                E eu olhava, incendiava o lugar, e só eu sentia as labaredas subindo e tomando conta de todo ar que eu dispunha antes. A cada minuto eu ficava mais sufocada, e não me importava com isso. O fogo não tomava conta de mim, porque eu era o fogo, eu ansiava por queimar toda e qualquer possibilidade de fuga, eu ansiava pelos tetos desabados e pelos gritos de socorro. Eu anseio que a minha alma se encha com algo palpável, além deste amor que arde em mim a cada olhar que ele me lança.
                Por que tudo é tão vazio? É tão sem cor? Ele molda os quadros com a sua palheta infinita de cor, e eu assisto ao espetáculo. Ele move os ombros, abre a boca, mas não emite nenhum som. Bate palmas, pergunta às estrelas os motivos pelo qual o planeta me move. Ele move o meu planeta, todas as minhas estrelas brilham, receosas por uma pincelada dele. E eu me deixo ir, pois não há outro lugar que eu queira estar. Talvez um mundo mais colorido, com mais corujas e sentimentos palpáveis, mas não posso desgrudar os olhos dele. Eu simplesmente não consigo.

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