Eu
tenho um pouco de medo em ser, e mais ainda em não ser. Não ser a melhor amiga,
a mais inteligente, a mais bonita, a mais simpática, a mais moderna, a mais
feminina. Ser eu mesma. É que eu já me perdi muitas vezes, tentei me adequar
demais e não sei onde fica o botão de reset. Eu não me conheço mais como aquela
garota solitária do ensino fundamental, talvez eu tenha dado um giro muito
grande. Eu tenho medo de já ter sido. Ter sido melhor para os outros, para mim
mesma. Sim, eu penso muito nos outros por medo da minha imagem e reputação, eu
carrego as duas. Não, ninguém liga para isso, só eu mesma. Tem dias que eu
quero entrar em um buraco e não sair de lá, tem dias que eu quero falar com
gente nova, tem dias que eu só quero chorar, e tem dias que, bem, eu ando lentamente
para ver se o dia passa mais rápido. Existem dois tipos de pessoas: eu e os
outros. Os outros têm me estragado bastante, principalmente aqueles mais perto
que eu finjo aguentar. Já eliminei alguns, mas a sábia frase diz tudo: “Sempre
há uma pessoa querendo melhorar o seu dia, e outras cinco querendo te foder”.
Não, não são cinco. São mais de dez, são trinta, não, sete bilhões de pessoas
com o mesmo pensamento: “Vamos andar para aquele lado e ver se o mundo inclina,
vai que a Fernanda se desequilibra e cai”. E tem aquelas pessoas mais perto de
mim que eu tanto gosto, mas que só falam de uma coisa e só pensam em uma coisa.
Esse tal de amor tem me custado muito caro, e nem é uma felicidade própria. O
amor tira de mim e dá aos outros. Tira o meu tempo, minha paciência, meu ego,
meu orgulho, meu sorriso. Estou mal. Estou mal mesmo e ninguém percebe. Eu
também não falo, não mostro. Tem vezes que eu convenço a mim mesma que quero
ficar sozinha, mas isso é mentira. Então eu ando até um lugar cheio que eu não
conheço ninguém e fico lá, parada. Eu, no fundo do meu coração, espero que
alguém me ache, que alguém pare para falar comigo, e que seja alguém novo ou seminovo
conhecido meu. Novos assuntos surgem e eu me esqueço dos meus problemas. A
questão é que os problemas não são meus. São pessoas e mais pessoas querendo
meu conselho, minha ajuda, meu cupidismo, meus trabalho, meu tempo. NÃO, EU NÃO
QUERO TE DAR NADA. PARE DE LEVAR CONSIGO UMA PARTE DE MIM. Eu grito, mas
ninguém me escuta. Talvez eu esteja gritando baixo demais, mas acho que o
destino está sendo maldoso comigo. E não posso me esquecer de que há aqueles
que acreditam em destino e se deixam levar pelo vento, tudo o que vier será
culpa do destino. Eu sou um deles. Isso está muito errado, nós decidimos o
nosso destino, nós fazemos escolhas, eu simplesmente escolhi ser levada pelo
vento, pois fui vencida por cansaço. Estou cansada de correr atrás de amor, de
paz. Cansada de correr atrás do que corre de mim. Eu só queria que as coisas
fossem fáceis, que eu não tivesse que esconder o que eu sinto, que eu não
tivesse que acompanhar as pessoas só para não magoá-las, que eu pudesse dizer
não quando quero dizer não, que eu não tivesse que pensar antes de falar,
porque eu adoro falar sem pensar, eu adoro dizer naturalmente tudo o que está
dentro de mim e escutar o mesma da outra pessoa. Mas não, eu tenho que pensar
para me adequar ao que ela quer, ao estereótipo que ela segue, para ser aceita.
E SE EU GRITAR MAIS ALTO SERÁ QUE SATURNO ME ESCUTA? Será que Saturno ainda
vive? Eu me questiono, seria um bom lugar para morar? Deslizando pelos anéis,
mudando de cor a cada piscadela, tudo mais simples. É disso que eu sinto falta,
do mundo simples. Nas amizades as pessoas falavam o que queriam, e se não
gostassem a porta é serventia do mundo. O amor era cortês, se gostasse de
alguém tentava conquistar. Hoje em dia é tudo uma grande ficada, são joguinhos
de sedução, você não gosta mais de uma pessoa, mas faz uma lista com cinco. Não
se esqueçam das metas e do tempo, hoje existe um cronômetro em cada relação
baseado no tempo que demorou a conquistar, porque o mundo virou uma grande
panela de arroz. Devo explicar que arroz é o termo que se usa para caracterizar
um homem ou uma mulher que quer conquistar outra pessoa, mas usando o método da
aproximação, do cafuné, de conversar sempre que pode, de acompanhar sempre que
pode. Eu não sou arroz. Ainda bem. Mas puta que o pariu, desculpem-me o termo,
mas o mundo está foda. Devo começar a falar mal agora porque pessoalmente isto
soa muito estranho, mas que se foda esta merda, este caralho está me deixando
puta da vida. Se eu me sinto melhor? Muito. Devo censurar isso quando editar?
Acho que não! Eu só preciso desabafar mesmo, e como o meu melhor amigo não
entende o que eu sinto e como a minha melhor amiga só pensa em pegação com
adolescentes na puberdade da calourada, eu grito aqui mesmo. É tão difícil as
pessoas gostarem de mim, mas gostarem mesmo? Gostar de pegar na minha mão e
fazer um cafuné em mim? POR FAVOR, EU ADORO FAZER CAFUNÉ, MAS AS VEZES QUE
PRECISO DE UM. Na verdade eu preciso muito de um, e é bem capaz de eu chorar no
dia em que finalmente receber aquele cafuné que eu mereço. Tudo o que eu quero
é que peguem na minha mão e entrelacem os dedos, que fique assim, em silêncio.
Deixa o resto do mundo pensar o que quiser, eu só quero sentir alguma coisa,
algum amor, alguma amizade, algum sentimento. Eu sou aquele tipo de pessoa que gosta
do comum, do que tem afinidades, mas eu nunca vi gostar tanto do oposto, de
quem mais me irrita. Eu detesto quando isso acontece. Mas
nem sempre foi assim. Eu adoro ter afinidades com as pessoas, adoro conversar
por muito tempo e aí surgir um sentimento. Então é tarde demais porque eu fui
jogada para a friendzone (zona da amizade). Isto também me irrita, eu quero
conversar com alguém, mas não posso me expressar direito, tem que parecer
interessada e desinteressada para conquistar a pessoa. DANE-SE ESTE MÉTODO DE
CONQUISTA. É por isso que eu não fico nessa pegação louca, eu nunca faço o jogo
da conquista, eu sempre caio nele. E não é difícil me conquistar, é difícil me
dar segurança e confiança de ir em frente e então fazer a magia acontecer. Se
um dia você me conquistar, saiba que eu vou ficar aqui e você lá. Eu quase
nunca dou o primeiro passo. Você tem que fazer algo, ir falar comigo. Lugares
com árvores, cantinas, bancos, escada de incêndio, são lugares que eu sempre
passo. Sei lá, isso não é para ser um manual de ‘Como conquistar a Fernanda em
10 passos’. Isto é um desabafo para dizer que eu estou cansada do destino me
levar. Eu estou cansada de focar algo e não ir atrás. Então, para o meu coração
e minha alma não sofrerem mais eu decidi que decidirei agora: eu escolho não fazer
nada. Você aí do outro lado da tela ou do papel pode estar pensando: “Ué, mais
isso não é a mesma coisa de deixar o destino te levar?”. Não, não é. Eu tenho
um foco desta vez, um foco certíssimo. Ser feliz. E qual é o melhor jeito de
ser feliz além de não se importar com a opinião alheia e ser você mesmo? E quem
é a Fernanda? Eu não sei responder isso, mas acho que é bom assim. Eu não vou
pensar no que direi, apenas farei o que sinto.
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1 opiniões:
Para te falar a verdade, eu não sei o que comentar...
É como se fosse eu escrevendo esse texto e é tão bom saber que não estou sozinha nesse mundo com esse sentimento.
Eu também estou cansada de ter que me adequar a contextos, pessoas e momentos e do que mais sinto falta é da época em que eu praticamente me lixava para a boa imagem.
Muitas das coisas que tanto queremos (como amizades) ao longo do tempo vira tudo o que você não quer porque parece que mudou o conceito de amigo hoje. Esse ano está com um e é o melhor amigo. Ano que vem encontra outro e aquele torna-se um mero conhecido.
Eu estou farta desse mundo e ter que medir o que escrevo e falo.
FODA-SE TUDO ISSO!
Essa modernidade, essa pegação, esse objeto de desejo que é a mulher, esse desrespeito, essas pessoas que só deixam os outros para baixo.
O meu maior desejo ultimamente é fugir para um lugar isolado, uma cabana talvez, onde haja apenas ar puro, música, papel, caneta, livros e uma rede.
Não seja um leitor silencioso. Comente!