quinta-feira, 8 de julho de 2010

Adeus não é o suficiente


   Quando abri meus olhos, deparei-me com o meu maior medo: o escuro. Meus olhos estavam vendados, mas eu sabia que estava em uma pequena sala, talvez um armário. A minha respiração estava quente e a cada suspiro meu fazia um eco soar.
   Reorganizei os fatos em minha cabeça, pelo menos tentei. Não me lembrava de nada do que tinha ocorrido, até sentir uma forte pontada na cabeça e algo escorrendo no meu rosto; eu estava sangrando. Meu coração acelerou e pensei nas piores coisas, mas eu não conseguia me manter acordada, estava latejando muito. Eu adormeci num sono dolorido.
   Acordei a gritos, escutava vidros quebrando, batidas nas mesas e cadeiras sendo arrastadas. Sentia a vibração no pequeno armário de pisadas fortes subindo as escadas, pensei em fingir que ainda estava desmaiada da noite anterior, mas a porta me manteve acordada.
   Recebi uma batida na cabeça, e pelo peso pude perceber que era a porta. Senti o ar frio entrar e a presença de alguém, mas não ouvi vozes, tudo se calou. Pela venda que cobria os meus olhos, percebi que já estava de manhã. Ele puxou o meu braço e me levantou, meio desengonçada pela pancada na cabeça. Colocou-me nos ombros e desceu as escadas que pareciam não ter fim. Ouvi uma voz conhecida e meu coração acelerou, tentei falar:
   - Mãe?
   O silêncio foi profundo no cômodo onde estávamos, ninguém estava falando mesmo, mas o vento parou de assoviar e as folhas não se encontravam mais para dar um fundo de natureza; eu só ouvia o som do meu coração batendo. Ela me tocou, sei disso pela suave mão que me acariciava todas as noites depois das histórias de dormir. Ela respirou fundo, senti que queria chorar, engoliu seco. O homem me pôs no chão e falou calmamente com ela:
   - Ela é inteligente, não?
   - Por que a minha filha, Dante?
   - Nossa filha, você quer dizer.
   Comecei a respirar muito rápido, estava sem fôlego. Pelo que eu sabia a voz do meu pai era diferente, e ele nunca me faria mal. Dante se virou e voltou o olhar para mim, pois ele me deu um chute na perna.
   - Não faça nenhuma besteira.
   - Dante, é a nossa filha, não a machuque!
   - Agora é nossa? Eu nunca vou perdoar você.
   - Dante, não!
   A minha mãe gritou, eu não podia fazer nada. Ouvi os passos na escada e o som da sua voz me deixando, ele estava levando-o. Alguns minutos depois ele desceu e me carregou. Jogou-me no canto do quarto e tirou minha venda, meu sangue escorria pela parede branca do quarto de minha mãe. Ela estava jogada na cama, desacordada.
   - Preste bem atenção nesta cena, grave-a na sua memória. É a última coisa que se lembrará de sua mãe.
   Eu não conseguia falar, ele subiu o vestido de minha mãe e acariciou suas pernas, volte e meia olhava para mim, se certificando se eu estava assistindo. Eu não queria ver o que ele faria com ela, pois eu sabia que não seria algo bom.
   - Ela não fica linda dormindo?
   Uma lágrima percorreu minha bochecha quando ele tirou a calcinha dela, olhou para mim e sorriu. Ele abaixou as calças e a estuprou na minha frente. Tentei fechar os olhos algumas vezes, mas quando ele percebia, parava a ação e me provocava com insultos a minha família. Quando ele se satisfez e parou o estupro, ele olhou diretamente em meus olhos.
   -Será que a filha é tão boa quanto a mãe?
   - Não, você não vai me tocar!
   - E quem vai me impedir?
   Eu gritei alto, o mais alto que pude. Ele me jogou na cama e foi me despindo, enquanto eu tentava me arrastar para fora. Ele segurou meus quadris e me olhou, seus olhos eram medonhos e eu não tinha mais escapatória. Ele me estuprou como fez com a minha mãe, várias e várias vezes. Eu havia perdido a minha virgindade. Ele parou e me olhou, tinha um olhar de glória.
   Quando as lágrimas escorreram, eu percebi a enorme poça de sangue na cama, do meu sangue. Eu gritei com toda a força das minhas cordas vocais pedindo ajuda. Meu sinal sumiu no ar, andou para longe e jamais encontrou ouvidos. A última coisa que vi foi o seu vulto antes de fechar os olhos e estremecer, esperando a morte.
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Pauta para Once Upon a Time, edição da gincana. Tema: Frase em negrito com terror psicológico.

3 opiniões:

Leticía Gomes disse...

nossa, fer, li com o cenho contorcido.
que horror.
achei que foi bem escrito, claro, mas não é possível admirar o que aconteceu com elas.
pelo menos, voce leovu o tema a sério.

um beijo, o selo novo ficou lindo, já está lá no blog repostado.

Diana Góes disse...

realmente, absurdamente bem escrito e absurdamente horrível.
parabéns
=*

Franciele Valadão disse...

Que horror, mas lindo! Você escreve mto bem!

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