“Não sei por quantas vezes eu chorei por você estar longe,
por não poder tocar a sua pele macia e chamar-te para a cama. Já perdi as
contas quantas vezes eu me peguei chorando no banheiro, trancado, sufocando-me
nas minhas lágrimas, para ver se morria logo. A sua ausência aos poucos me
corrói, a saudade deixa um gosto amargo na minha boca, e eu já não posso viver
sem você.
Não sei
se nestas viagens malucas suas, você encontrou alguém novo, para se distrair ou
formar o que chamamos de família. Não sei se devo confiar na minha insegurança
ou na minha insanidade, já que nenhuma delas me dá o equilíbrio que preciso. Eu
preciso de você.
É claro
como a água o quanto eu te amo, mas você parece não corresponder quando está
distante. Não sei quanto já gastei com selos, e se as cartas chegaram aos seus
destinos, mas você nunca se importou em respondê-las, ou simplesmente escrever
uma para mim, por livre e espontânea vontade. Isso me deixa triste, faz com que
eu me sinta rejeitado.
Ás
vezes eu ando pela casa a noite pensando em você, em como cada canto tem uma
lembrança, cada foto tem uma história. Lembro-me do dia em que nos conhecemos,
foi tudo tão inesperado. Estava chovendo, meu cabelo mais molhado do que nunca,
e eu já não enxergava mais a rua, apenas as luzes dos faróis dos carros. Você
parou e me ofereceu uma carona, quem diria que eu me apaixonaria por você. Seus
olhos, seu cabelo, sua boca, tudo me encantou neste perfeito encaixe da
natureza.
Aqui
estou eu novamente com lágrimas nos olhos, não consigo me conter quando penso
em você. Eu não consigo mais manter esta distância, eu preciso que você esteja
comigo aqui, que não passe meses no exterior fazendo sabe lá o que. Eu preciso
do seu corpo, da sua alma, do seu amor.
Não sei
se me arrependerei de escrever esta carta, mas eu estou indo. Estou deixando
tudo para trás, assim como você fez comigo. Eu não posso mais suportar isto.
Talvez você ache esta carta no meio da sua papelada, ou talvez no lixo, eu
ainda não decidi onde pô-la.
Eu te
amo mais do que tudo, mas não posso pedir que venha atrás de mim, eu não tenho
mais forças.
Saudades,
Craig.”
E eu me
fui, voltei para o meu apartamento e me tranquei lá, as lágrimas escorrendo,
meu rosto vermelho. Eu o amava mais que tudo, e aquilo doía, aquilo me consumia.
Uma ligação, duas ligações, três ligações. Era hoje que o Daniel voltava da
viagem, eu não sabia se ele já havia lido a carta, ou se estava apenas me procurando.
Quatro ligações. Tapei os ouvidos, gritei. Cinco ligações. Meu coração
palpitava mais que nunca. O telefone parou e eu adormeci.
Seis
ligações. Acordei desesperado e atendi. O som da sua voz mudou tudo.
-
Craig? Craig? Você está aí? Eu estou indo...
Desliguei
o telefone, não aguentaria nem mais um minuto, nem um segundo longe dele. Desci
as escadas e peguei um táxi. Sete ligações. Será que ele já havia chegado em
casa? Mais meia hora no trânsito. Oito ligações, nove ligações. Ele chegou em
casa.
O
elevador do edifício nunca demorou tanto para chegar ao quinto andar. Abri a
porta do apartamento, os pés mal tocando o chão, cheguei perto da porta do
escritório. O telefone vibrou no meu bolso. Dez ligações. Daniel com a carta em
uma das mãos e o celular na outra. Ele pôs as duas mãos na cabeça e soltou um
soluço alto, ele estava desabando.
- Não,
não, não! – Ele gritava com as mãos na cabeça.
- Eu
não sabia se você já tinha chegado.
Ele me
olhou, parecia estar com ódio de mim. Levantou-se da cadeira, caminhou ate a
porta e parou. Encarou-me, jogou a cabeça em meu ombro, os braços em volta de
mim e as lágrimas na minha camisa.
- Nunca
mais faça isso.
- Eu
não posso mais, eu não posso.
- Não!
Nunca existiu outro alguém, nunca. Eu te amo tanto, não faça isso. – Passou a
mão no meu cabelo. – Eu saio, eu me demito, eu faço qualquer coisa.
-
Qualquer coisa?
-
Qualquer... – Ele me olhou com os olhos aflitos.
-
Beije-me.
E
a carta ficou no passado.Pauta para Bloínquês, 118ª edição visual, tema: foto.
2° lugar aqui.
1 opiniões:
Linda, profunda tua participação!Gostei muito! beijos,chica
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