segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Acampamento de Berlim

     Eu nunca tive muitos amigos; as pessoas sempre se afastavam de mim por eu ser meio diferente. Não é que eu seja laranja, é que eu não era muito social, na verdade eu não falava com qualquer um, mesmo tendo dinheiro, e muito por sinal, eu não me exibia e nem tentava fazer amizade com outros riquinhos.
     Eu era aquela garota que estudava muito, e na hora de fazer grupos eu era sempre escolhida primeiro por causa das minha notas, a consequência era que o trabalho ficava todo para mim, e eu fazia, sempre, mas eu recebia notas mais altas; meus colegas de grupo não sabiam mas eu fazia um relatório e dava tudo ao professor.
     Eu era muito bonita, mesmo, e ainda sou, tenho longos cabelos negros até a cintura e olhos verdes, sou alta e magra e tenho um sorriso muito bonito, mas eu não sorria muito. Mas quando a Suzana vinha passar umas temporadas na minha casa tudo ficava diferente, eu sempre morei em Berlim, na Alemanha, e aqui faz, podemos dizer muito frio, principalmente em Dezembro á Março, quando pode ficar abaixo de zero, mas a Suzana sempre vinha para cá em Junho, Julho e Agosto, os meses mais quentes.
     Ela também era muito bonita, tinha a minha altura, olhos castanhos, cabelo mel, curto e espetado, falava muito, muito mesmo, nunca vi ninguém falar tanto na minha vida, e eu sou mais de escutar. Éramos como pólos opostos, mas nos dávamos tão bem que nem notávamos as diferenças, Alice e Suzana, tínhamos um quarto só nosso, com todas as nossas tralhas de nossas aventuras.
     E falando em aventura, meu pai nos chamou para acampar, e é claro que nós topamos, que mal haveria de irmos acampar? O mal era que no dia meu pai desistiu de ir acampar, mas nós fomos sem ele para o Berlin Tegel, um bosque em Berlim. Já estava entardecendo quando acabamos de montar as barracas e resolvemos dar uma volta para ver o que estava ocorrendo por ai.
     Quando voltamos encontramos um buraco e alguns ovos de animais quebrados, achamos bem estranho, talvez alguém tenha passado por ali, entramos na barraca e esperamos.
     -Suzana, o que será que comeu aqueles ovos?
     -Eu não sei, talvez seja um animal selvagem.
     Não estávamos com medo, apenas pensativas quando caímos no sono dentro da barraca, mas logo despertamos ao ouvir um ruído diferente, era quase meia-noite quando vimos um coelho morto, a menos de um metro de distância da barraca, quando fomos olhar o coelho tinha marcas de dentes e a uns três metros outro buraco, com várias frutas enterradas.
     -O que será que matou o coelho?
     -E enterrou as frutas? Uma pessoa?
     Pegamos o coelho e enterramos no buraco da frutas, que de manhã quando acordamos, estava fundo e o coelho sujo de terra a uns 7 metros da barraca.
     -Alice, alguém passou aqui, eu tenho certeza. O que foi isso? - disse Suzana, meio aflita.
     -Suzana, calma, ainda não sabemos, mas iremos descobrir.
     E lá fomos nós com as nossas mochilas para o meio do bosque procurando algumas pistas quando ouvimos um som alto, não muito longe dali onde estávamos. Corremos em direção ao som, mas quando chegamos apenas vimos alguns ratos mortos, não restara muito deles; e algumas frutas novamente meio enterradas na terra em um buraco razoavelmente fundo.
     Continuamos curiosas a nossa jornada em busca do sujeito desconhecido, quando começou a chover, voltamos correndo para a barraca, desapontadas. Pela brechas da barraca podemos ver a chuva lavando a terra e tampando os enormes buracos com lama, onde talvez, o estranho nunca mais o achasse novamente.
     Mas estávamos enganadas, de manhã vimos com os olhos ainda com remelas que aquele mesmo buraco estava ali, mesmo com a chuva, a terra molhada, as folhas caindo e a lama refazendo o chão o buraco estava ali, parecendo intacto, isso só aumentava a nossa curiosidade. Colocamos a roupa, pegamos a mochila e voltamos a caminhar, mais rápidas e atentas do que o outro dia, neste percurso encontramos algumas aves de pequeno porte e insetos mortos, parecia que havia tido um banquete para alguém, e já sabíamos que era um animal.
     -Suzana, tenho certeza que é um animal, mas que animal é esse?
     Perguntávamos-nos toda hora sobre que tipo de animal era esse. Chegamos perto do lago onde encontramos umas carcaças de peixes mortos, já sabíamos que esse animal era habilidoso, rápido e esperto; só tínhamos que encontrá-lo. Um pouco mais adiante, seguindo o leito do lago que era um grande lago, encontramos outro buraco, um pouco mais raso do que os outros, mas agora com peixes, não muitos, uns três peixes.
     Ouvimos aquele mesmo som, mas muito mais alto, era de dar dor no ouvido.
     -Vamos seguir o som, agora é pra valer. - eu disse toda convicta.
     De nada adiantou quando chegamos onde parecia ter vindo o som e encontramos mais aves mortas. Voltamos para a barraca pois estava quase de noite, desapontadas novamente.
     Eu fui a primeira a acordar com um barulho estranho, parecia que alguém estava fungando a barraca, lentamente abri o zíper e me deparei com um animal de uns 85cm, com o pêlos castanho-avermelhados, orelhas pontudas e pretas atrás, focinho fino, cauda espessa, olhos triangulares e pequenos, e patas ovais com garras fungando a barraca como se houvesse algum tesouro por ali. Acordei lentamente Suzana.
     -Suzana, acorda Suzana, descobri o que é.
     -O que é o que?
     -É uma Raposa-vermelha Suzana, vem ver.
     Suzana deu um pulo na barraca que por pouco não espanta a raposa, quando se deparou com aquele bicho arregalou os olhos e disse baixinho:
     -É ele ou ela?
     -E eu que vou saber Suzana!
     Infelizmente eu gritei, e a raposa levantou a cabeça e olhou profundamente em meus olhos.
     -Vulpes! - eu falei como se fosse o nome dele e eu já tivesse conhecido ele a anos atrás.
     -Vulpes? Você já deu nome para ele?
     -Eu não sei, mas ele me parece bonzinho, e eu acho que é macho.
     E não é que era macho? Nós logo ficamos amigos, podíamos fazer carinho nele, dávamos algumas frutas que havíamos trago de casa e ainda brincávamos no bosque com ele. O que nós não entendíamos é que todas as manhãs nós acordávamos com o Vulpes fungando a barraca e tentando cavar, resolvemos desmontar a barraca para ver o que havia ali. Para a nossa surpresa, quando desmontamos a barraca e deixamos o espaço livre, Vulpes cavou e cavou, no final apenas vimos outra raposa-vermelha sair com 4 filhotinhos de pelagem castanho-escura.
     Ficamos impressionadas, Vulpes tinha um família e nós estávamos sobre ela o tempo todo, o problema é que estávamos sobre a entrada da toca. O mais impressionante era como eles eram fofos, não parávamos de fazer carinho nos filhotes e na mãe, demos o nome a mãe de Fulfa e aos filhotinhos de Kenaiensis, Karagan, Regalis e Alascensis, sendo dois machos e duas fêmeas respectivamente.
     Resolvemos passar mais uma noite no bosque, e a família de raposas estava na nossa barraca, todos dormindo juntinhos e abraçados por mim e pela Suzana. De manhã, quando acordei não vi mais a família e a barraca estava meio aberta, quando olhei só vi o Vulpes me olhando como se estivesse dizendo adeus, e saiu, só deixando um vulto e regougando pela floresta, como se fosse um 'obrigado' na língua das raposas.

Pauta para Once Upon a Time, edição 29. Tema: "Ainda não sabemos, mas iremos descobrir".

5 opiniões:

Francine Kronbauer. disse...

gostei *_*

Mundo Cor de Rosa disse...

que legal :D

Graziely Marchese disse...

Muito criativo o seu texto. eu bem que tentei criar um texto também pro OUAT mais não consegui ;/
Espero que você ganhe.
beijokas =)

Gabi disse...

adoreeeeeei *-*

Graziely Marchese disse...

Sabia que você ia conseguir destaque lá no OUAT. Parabéns!

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