domingo, 3 de março de 2013

Pinhos de cristais



                Eu vejo pinheiros cobertos de neve no meio do outono, e acho isso tão bonito. É uma singularidade que aqui nunca tenha essa diversidade de estações. Todas são brancas, todas são de flocos, todas são geladas. E as borboletas nunca pousam por aqui, e volte e meia eu vejo uma raposa se camuflando atrás dos pinheiros.
                Não me pergunte o nome da minha cidade, é muito particular assim como as lagoas congeladas no meio da floresta. São poucas as coisas atraentes aqui, os pinheiros chamam atenção por serem altos, imponentes. Há pequenas lagoas espalhadas pela floresta, que eu costumo chamar de minha. Aí está uma boa história, quando eu caí em uma delas.
                Correndo de não sei o que, com medo nos olhos e marcas de galhos nos meus braços eu deslizei e quebrei o gelo. Caí. Afundei. Congelei por um instante. Meus sentidos foram todos absorvidos e desviados para um só pensamento: a morte. Uma morte gélida, branca, escondida. Não movia os braços, as pernas, apenas descia até encontrar um chão. Eu nunca encontrei este chão.
                Encontrei pinheiros, uma floresta deles, pontas altas cobertas de neve. Encontrei olhos castanhos, buracos negros de pinheiros que não me sugaram a vida, mas a devolveram. E eu não pude gritar, não tinha mais voz, e ele só me calou com as mãos quentes, me abraçou e levou-me para casa.
                As borboletas nunca pousam por aqui, mas aqueles olhos negros sempre passam pela minha casa, para ver se eu estou bem, para ver se eu não abro outro buraco no gelo. Para ver se eu não abro outro buraco no tempo que fez daquele dia de inverno um dia de verão. Talvez eu só veja pinheiros durante toda a minha vida, talvez eu só veja o branco da neve, mas sentir, eu sempre sinto.
                Eu sempre sentirei o calor das mãos, o frio da água, o medo da morte. Eu sempre sentirei algo me puxando para fora, para fora do frio e da angústia. São muitos dias de inverno, são pinheiros muitos altos para escalar, são pessoas muito distantes para gritar. Mas um dia tudo vem, tudo puxa, tudo muda. É como um buraco negro, que tudo suga.
                Só que no meu caso, ele devolve.

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