Eu vejo
pinheiros cobertos de neve no meio do outono, e acho isso tão bonito. É uma
singularidade que aqui nunca tenha essa diversidade de estações. Todas são brancas,
todas são de flocos, todas são geladas. E as borboletas nunca pousam por aqui,
e volte e meia eu vejo uma raposa se camuflando atrás dos pinheiros.
Não me
pergunte o nome da minha cidade, é muito particular assim como as lagoas
congeladas no meio da floresta. São poucas as coisas atraentes aqui, os
pinheiros chamam atenção por serem altos, imponentes. Há pequenas lagoas
espalhadas pela floresta, que eu costumo chamar de minha. Aí está uma boa
história, quando eu caí em uma delas.
Correndo
de não sei o que, com medo nos olhos e marcas de galhos nos meus braços eu
deslizei e quebrei o gelo. Caí. Afundei. Congelei por um instante. Meus
sentidos foram todos absorvidos e desviados para um só pensamento: a morte. Uma
morte gélida, branca, escondida. Não movia os braços, as pernas, apenas descia
até encontrar um chão. Eu nunca encontrei este chão.
Encontrei
pinheiros, uma floresta deles, pontas altas cobertas de neve. Encontrei olhos
castanhos, buracos negros de pinheiros que não me sugaram a vida, mas a devolveram.
E eu não pude gritar, não tinha mais voz, e ele só me calou com as mãos
quentes, me abraçou e levou-me para casa.
As
borboletas nunca pousam por aqui, mas aqueles olhos negros sempre passam pela
minha casa, para ver se eu estou bem, para ver se eu não abro outro buraco no
gelo. Para ver se eu não abro outro buraco no tempo que fez daquele dia de
inverno um dia de verão. Talvez eu só veja pinheiros durante toda a minha vida,
talvez eu só veja o branco da neve, mas sentir, eu sempre sinto.
Eu sempre
sentirei o calor das mãos, o frio da água, o medo da morte. Eu sempre sentirei
algo me puxando para fora, para fora do frio e da angústia. São muitos dias de
inverno, são pinheiros muitos altos para escalar, são pessoas muito distantes
para gritar. Mas um dia tudo vem, tudo puxa, tudo muda. É como um buraco negro,
que tudo suga.
Só que
no meu caso, ele devolve.
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